Padre finge ser traficante de órgãos para salvar jovem de 14 anos

O padre espanhol Ignacio María Doñoro de los Ríos dedicou vida a salvar crianças e recorda momento que mudou a sua vida. O clérigo foi nomeado para os Prémio Princesa das Astúrias

O padre espanhol Ignacio María Doñoro de los Ríos, de 57 anos, fez-se passar por um traficante de órgãos para salvar a vida de um jovem de 14 anos. A história aconteceu há uns anos quando estava em El Salvador, no âmbito de uma missão militar juntamente com a Polícia Nacional. O clérigo – cuja vida tem sido dedicada a ajudar jovens em situação de extrema pobreza e vítimas do tráfico e cujo trabalho foi reconhecido pelos Prémios Princesa das Astúrias – conta, ao El País, a história deste adolescente com paralisia cerebral que estava a ser vendido pelo preço de 25 dólares (21 euros). O objetivo era ganhar dinheiro para conseguir sustentar as restantes quatro filhas.

“Aquela criança ia morrer eles venderam-na em desespero”

Ignacio nem queria acreditar que a vida de Manuel pudesse custar tão pouco, achou que faltavam três zeros no número. Como o próprio explica, são várias as famílias naquela região que não tinham recursos para se alimentar diariamente. E diz-se incapaz de julgar estes pais que sabiam que mais tarde ou mais cedo o filho ia morrer. “Algo que se aprende com o tempo é que não se pode julgá-los: aquela criança ia morrer e eles venderam-na em desespero”, explica Doñoro.

O mesmo desespero que o padre sentiu ao saber da história de Manuel e o levou a decidir que devia salvar a vida daquele adolescente, ainda que no caminho tivesse que dar a sua. Vestido com uma camisa suja e exibindo barba de uma semana, alugou um camião para lá chegar lá e fingir ser um traficante. Com esse disfarce, encontrou-se com os pais do rapaz, a quem pagou um valor um pouco superior ao que era pedido, agarrou no jovem, mete-o rapidamente no veículo e veio-se embora. “Em poucos décimos de segundo percebi que aquele era um comboio que só poderia apanhar uma única vez na vida. E se o apanhas, ele vai levar-te onde nunca imaginaste”, disse, assumindo ter consciência de que aquela criança iria mudar a sua vida para sempre.

Manuel fez frente à paralisia e agradece a sua vida ao padre

Com uma vida marcada por expedições na Bósnia e Kosovo, e missões humanitárias em Tânger, Colômbia e Moçambique, onde também trabalhou com crianças com problemas de exclusão e doença, Ignacio aposentou-se da vida militar há 10 anos e criou o Hogar Nazaret, um abrigo na Amazónia peruana para dar uma vida digna a crianças órfãs ou crianças de famílias vulneráveis que sobreviveram a casos de extrema pobreza, e outras que foram vítimas de tráfico e prostituição. O trabalho nesta associação valeu-lhe a nomeação para os prémios Princesa das Astúrias 2021. “O lema desta casa é: se salvar uma criança, está a salvar a humanidade”.

Em relação a Manuel, o padre conta que, graças à fisioterapia e tratamentos indicados, o jovem conseguiu evoluir e fazer frente à paralisia que fora a sua sentença de morte. O rapaz, agora adulto, escreveu-lhe uma carta, há uns anos, a agradecer por lhe ter salvado a vida e nela dizia que Ignacio tinha sido a “pessoa mais importante” da sua vida.

Foto: reprodução Facebook

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