São Francisco aprova lei que permite processar autores de chamadas racistas para o 911
Uma lei que a Câmara de Supervisores de São Francisco se prepara para aprovar hoje, vai permitir aos alvos de chamadas racistas para a linha de emergência nacional dos Estados Unidos (911) processar os seus autores.
A Lei de Cuidado Contra as Não Emergências Raciais e Exploradoras, também conhecida pela sigla CAREN (da designação Caution Against Racial and Exploitative Non-Emergencies Act, em inglês) foi assinada por todos os 11 supervisores do órgão legislativo do Governo da cidade e do condado de São Francisco, o que garante a sua aprovação, apesar de algumas críticas de que o seu nome é sexista e divisionista.
O acrónimo CAREN é uma homenagem a uma ‘meme’ popular na internet, que usa o nome de Karen para descrever uma mulher branca cujas ações derivam do seu privilégio de como usar a polícia para atingir pessoas de cor, algo que tem acontecido com mais frequência no país.
Em maio, uma mulher branca, Amy Cooper, ligou para o 911 desde o Central Park de Manhattan (Nova Iorque), alegando falsamente que um homem negro, que apenas lhe tinha pedido educadamente que colocasse a trela no seu cão, a estaria a ameaçar, acabando acusada de apresentar uma queixa falsa.
Na cidade de São Francisco, onde a nova legislação se prepara para ser aprovada, um casal branco foi criticado nas redes sociais depois da divulgação de um vídeo onde questionavam um americano originário das Filipinas por escrever “Black Lives Matter” (Vidas Negras Contam) num muro de contenção em frente à sua própria casa, acabando por chamar a polícia.
O casal aproximou-se de James Juanillo e exigiu repetidamente saber se aquela era a sua casa, porque estaria a vandalizar propriedade privada.
“Tentaram fazer um cenário de crime. Era simplesmente eu, calmamente, a escrever com giz, não com spray, não durante a noite, mas às claras. Só me faltava um [copo de vinho] pinot grigio”, ironizou o cidadão, que revelou ainda ter utilizado giz amarelo propositadamente para condizer com a cor da casa.
O supervisor Shamman Walton, que apresentou a legislação, afirmou que “as chamadas para o 911 e queixas não são uma linha de atendimento ao cliente para comportamentos racistas”.
“As pessoas de cor têm o direito de fazer as suas atividades quotidianas sem serem alvo de assédio devido ao preconceito racista de alguém”, acrescentou.
Os defensores da legislação defendem que é doloroso ser confrontado pela polícia porque alguém os viu como uma ameaça, ou como criminosos, e que isso é especialmente assustador para os negros, cujos encontros com a polícia podem terminar em violência.
A aprovação da legislação acontece numa altura em que o debate sobre o racismo é estimulado por várias mortes de negros americanos sob custódia policial e por casos em que cidadãos brancos chamaram a polícia para investigar pessoas de cor.
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