Mondlane diz que houve “derramamentos de sangue” após declarações do PR moçambicano

O ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane disse hoje que houve “derramamento de sangue verdadeiro” após o discurso do Presidente de Moçambique sobre “jorrar sangue” para travar protestos, indicando que submeteu uma queixa-crime cumprindo um “dever cívico”.

Mondlane diz que houve

“Vocês sabem que depois daquelas declarações que foram feitas, seguiram-se uma série de derramamentos de sangue verdadeiro”, declarou Venâncio Mondlane, no final de uma audição na Procuradoria-Geral da República de Moçambique (PGR), em Maputo.

Mondlane submeteu, por isso, hoje ao Ministério Público (MP) uma queixa-crime contra o Presidente da República, Daniel Chapo, acusando-o de instigação à violência no seu discurso sobre “jorrar sangue” para travar protestos.

“No mais alto pedestal da magistratura, que jurou fazer respeitar a constituição (…) espezinha a lei mãe, quando em causa está a eliminação de quem, legitimamente, reclama, nos marcos constitucionais da lei, por justiça, neutralidade e imparcialidade dos órgãos eleitorais e da alta corte da magistratura eleitoral”, lê-se na queixa de Mondlane contra o Presidente moçambicano, divulgada pouco depois de o político começar a ser ouvido pelo MP.

O Presidente de Moçambique disse em 24 de fevereiro que iria combater as manifestações pós-eleitorais e assegurar a independência e soberania do país.

“Tal como estamos a combater o terrorismo e há jovens que estão a derramar sangue para a integridade territorial de Moçambique, para a soberania de Moçambique, para manter a nossa independência, aqui em Cabo Delgado, mesmo se for para jorrar sangue para defender essa pátria contra as manifestações, vamos jorrar sangue”, disse o chefe de Estado.

Ao fim de quase 10 horas de audição sobre um dos oito processos em que é visado no âmbito dos protestos e agitação social pós-eleitoral, Mondlane apontou a morte a tiro no domingo, na província de Inhambane, de dois membros do seu “projeto político” para além do alegado atentado de que foi alvo em 05 de março, quando realizava uma passeata na capital do país, do qual resultaram 16 feridos, como consequências do discurso de Daniel Chapo.

Mondlane disse que submeteu igualmente uma denúncia à PGR e ao Ministério do Interior contra a polícia moçambicana acusada de violentar 411 pessoas do “projeto político” do ex-candidato presidencial, resultando na morte de pelo menos 42.

 “Acho que cumpri o meu dever cívico, porque toda a gente sabia que aquele ato, aquelas declarações feitas em Palma [província de Cabo Delgado] são indisfarçadamente uma incitação à violência de instituições públicas como a polícia”, declarou o político.

Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo.

Atualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de outros problemas sociais.

Desde outubro, pelo menos 353 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, de acordo com a Plataforma Decide.

O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações. 

PME(PVJ) // ANP

Lusa/Fim

 

By Impala News / Lusa

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