Guterres rejeita “esquema” que desrespeite direito internacional em Gaza
O secretário-geral da ONU rejeitou hoje participar em “esquemas” que não respeitem o direito internacional e os princípios de humanidade em Gaza, frisando que as Nações Unidas têm o seu próprio plano para levar ajuda ao enclave.

Numa declaração aos jornalistas em Nova Iorque, na sede da ONU, Antóno Guterres afirmou que os palestinianos em Gaza estão a enfrentar “aquela que poderá ser a fase mais cruel deste conflito cruel”, onde durante quase 80 dias Israel bloqueou a entrada de ajuda internacional essencial, o que levou toda a população de Gaza a enfrentar o risco de fome.
“As famílias estão a passar fome e a serem privadas do mais básico. Tudo isto com o mundo a assistir em tempo real. Israel tem obrigações claras ao abrigo do direito internacional humanitário”, disse o líder da ONU, reforçando as obrigações de Telavive enquanto potência ocupante.
Porém, apesar dos “níveis atrozes de morte e destruição” face à ofensiva israelita, Guterres garantiu que a ONU não participará “em nenhum esquema que não respeite o direito internacional e os princípios humanitários de humanidade, imparcialidade, independência e neutralidade”.
A ONU já havia rejeitado o plano privado, apoiado por Washington e Israel, para distribuir ajuda humanitária em Gaza e exigido que o Governo israelita permita a atuação imediata da organização na Faixa de Gaza.
Com base nesses planos, Israel assumiria o controlo da distribuição da ajuda no enclave palestiniano.
Na semana passada, o chefe humanitário da ONU, Tom Fletcher, rejeitou completamente a modalidade de distribuição de ajuda projetada por Israel, considerando tratar-se de “um espetáculo cínico, uma distração deliberada, uma fachada para mais violência e deslocações”.
António Guterres realçou hoje que as Nações Unidas e seus parceiros têm um plano detalhado de cinco passos, “baseado em princípios e operacionalmente sólido” – e apoiado pelos Estados-membros — para levar ajuda à população desesperada de Gaza.
O plano da ONU inclui a entrega de ajuda a Gaza; inspeção e verificação da carga em pontos de passagem; ajuda de transporte dos pontos de passagem para instalações humanitárias; preparação da ajuda para distribuição posterior, e apoio de transporte para pessoas carenciadas.
“Temos o pessoal, as redes de distribuição, os sistemas e as relações comunitárias necessárias para agir”, sublinhou, referindo que mantimentos — 160.000 paletes, o suficiente para encher quase 9.000 camiões — estão disponíveis para serem entregues.
O secretário-geral afirmou que, nos últimos dias, quase 400 camiões foram autorizados a entrar em Gaza através da passagem de Kerem Shalom, mas apenas a carga de 115 camiões foi recolhida.
“E nada chegou ao norte sitiado”, lamentou.
“As necessidades são enormes e os obstáculos são impressionantes. Estão a ser impostas quotas rigorosas aos produtos que distribuímos, juntamente com procedimentos de atraso desnecessários. Outros artigos essenciais — incluindo combustível, abrigo, gás de cozinha e material de purificação de água — são proibidos”, assinalou ainda.
O Governo israelita anunciou hoje que permitiu que 107 camiões da ONU e da comunidade internacional entrassem na quinta-feira na Faixa de Gaza, cenário de uma guerra entre Israel e o grupo extremista palestiniano Hamas desde outubro de 2023.
No entanto, os incidentes durante a distribuição de ajuda estão a tornar-se mais frequentes, uma vez que as queixas de que a ajuda recebida é insuficiente são agravadas pelos saques e pelo desespero das pessoas por ajuda, após mais de dois meses e meio de bloqueio total à entrada de alimentos, água, medicamentos ou combustível na Faixa de Gaza.
Dois milhões de pessoas na Faixa de Gaza enfrentam fome extrema caso não sejam tomadas medidas imediatas, alertou a ONU.
A ajuda humanitária permitida por Israel em Gaza nos últimos dias “nem sequer chega perto de cobrir a escala e o volume das necessidades dos 2,1 milhões de habitantes de Gaza”, disse, na quinta-feira, o porta-voz do secretário-geral da ONU (António Guterres), Stéphane Dujarric.
Antes da guerra, entravam no país uma média diária de 500 camiões com produtos básicos para a população, embora as organizações humanitárias já considerassem isso insuficiente.
MYMM (PMC) // JH
By Impala News / Lusa
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