Associação quer retirar Nobel da Literatura a Peter Handke
Principal associação de vítimas do genocídio de 1995 acusa-o de defender responsáveis por crimes de guerra.
Peter Handke ganhou o Prémio Nobel de Literatura 2019, mas a principal associação de vítimas do genocídio de 1995, na cidade bósnia de Srebrenica, pediu que o prémio lhe fosse retirado.
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A associação acusa Peter Handke de defender responsáveis por crimes de guerra. Munira Subasic, presidente da associação Mães de Srebrenica, disse ao portal de notícias bósnio Klix que a petição será enviada ao Comité Nobel. “O homem que defendeu os carniceiros dos Balcãs não pode ter esse prémio”, afirmou.
“Ficámos muito afetados como vítimas. Como é que alguém que defende criminosos pode receber o Prémio Nobel e, acima de tudo, defende aqueles que cometeram o genocídio?”, questionou a presidente da associação. Em Srebrenica, milícias servo-bósnias assassinaram 8000 homens e rapazes muçulmanos em 1995 durante a guerra na Bósnia, um ato que a justiça internacional descreveu como genocídio.
Posição pró-Sérvia gera controvérsia
O Nobel da Literatura de 2019 foi atribuído a Peter Handke, de 76 anos, esta quinta-feira, 10 de outubro. A sua posição pró-Sérvia não passou ao lado dos Balcãs Ocidentais, que ainda sentem as consequências das guerras na ex-Jugoslávia. O austríaco é, para alguns, um apologista de crimes cometidos em nome do nacionalismo sérvio, enquanto para outros é um intelectual que lutou contra a demonização dos sérvios.
A atribuição do prémio mereceu a reação pública de vários líderes. Sefik Dzaferovic, um membro muçulmano da Presidência tripartida da Bósnia, considerou uma pena recompensar Handke, descrevendo-o como um admirador do autoritário ex-Presidente sérvio Slobodan Milosevic.
“É vergonhoso que o Comité do Nobel ignore o facto de Handke justificar e defender Slobodan Milosevic e os seus executores Radovan Karadzic e Ratko Mladic, que foram condenados pelos mais graves crimes de guerra, incluindo genocídio”, disse Dzaferovic.
O Presidente do Kosovo, Hashim Thaci, também criticou a concessão do galardão a Handke. “O genocídio na Bósnia-Herzegovina tinha um autor. Handke escolheu apoiar e defender esses autores. A decisão sobre o Prémio Nobel trouxe uma dor imensa às inúmeras vítimas”, publicou Thaci na rede social Twitter.
O primeiro-ministro da Albânia, Edi Rama, também se manifestou. “Eu nunca pensei que tivesse vontade de vomitar por causa de um Prémio Nobel, mas a vergonha está a tornar-se uma parte normal do mundo em que vivemos”, referiu Rama. «Não, não podemos ser tão insensíveis ao racismo e ao genocídio!”, acrescentou o chefe do Governo albanês.
Galardão recebido com alegria na Sérvia
Na Sérvia, o galardão foi recebido com alegria. Peter Handke negou ter questionado ou minimizado o massacre e disse que pretendia apenas esclarecer a imagem de que os sérvios eram “maus” e os bósnios-muçulmanos “bons”.
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