TikTok garante prevenir desinformação após promover candidato populista na Roménia

O TikTok catapultou a candidatura do populista Calin Georgescu nas presidenciais na Roménia, desencadeando a anulação da primeira volta por alegada interferência russa e uma averiguação da Comissão Europeia, mas a plataforma garante trabalhar para prevenir a desinformação.

TikTok garante prevenir desinformação após promover candidato populista na Roménia

Com cerca de nove milhões de utilizadores na Roménia — equiparado à rede social Facebook -, a plataforma chinesa teve um papel determinante na primeira volta das presidenciais romenas, realizada em 24 de novembro do ano passado, que foi anulada, numa decisão inédita do Tribunal Constitucional deste país, membro da União Europeia (UE) e da NATO.

Os serviços secretos romenos desvendaram uma extensa campanha coordenada no TikTok, que envolveu mais de 25 mil contas, e que dispararam o apoio do candidato de extrema-direita Calin Georgescu, que passou de 5% nas intenções de voto para vencedor, com 23%.

Uma investigação da organização de media independente Context.ro revelou que o TikTok não foi a única plataforma utilizada: os jornalistas descobriram uma rede de 18 ‘sites’ adicionais que se coordenavam para publicar artigos pró-Georgescu e distribuí-los através de publicidade paga no Facebook.

Essas páginas estão ligadas à Aliança para a União dos Romenos (AUR, extrema-direita), a segunda maior força política romena, que apoiou Georgescu. O partido é liderado por George Simion, que é agora o favorito na repetição das presidenciais, marcada para domingo.

Apesar da ação alargada, Georgescu, que não teve iniciativas de campanha muito visíveis, relatou zero despesas à Comissão de Supervisão Eleitoral. No entanto, as páginas associadas à AUR gastaram mais de 46 mil euros para o promover entre os dias 26 de novembro e 02 de dezembro.

De acordo com o Context.ro, os serviços secretos romenos identificaram semelhanças notáveis entre esta operação e as campanhas de influência russas, nomeadamente a campanha “Brother by Brother” na Ucrânia, que utilizou táticas semelhantes de manipulação de micro-influenciadores.

Mais de 20 organizações não-governamentais (ONG) apelaram à Comissão Europeia e à autoridade reguladora das telecomunicações da Roménia (ANCOM) a analisar se as principais plataformas ‘online’ cumpriram as disposições da Lei dos Serviços Digitais da UE (DSA) durante a primeira volta das eleições presidenciais romenas.

O Tribunal Constitucional anulou as eleições em 06 de dezembro, 48 horas antes da segunda volta, por suspeita de interferência de um “agente de um Estado estrangeiro”, em referência à Rússia, e de irregularidades no financiamento da campanha.

Segundo a analista em geopolítica Antonia Colibasanu, do Instituto de Investigação sobre Política Externa (FPRI, na sigla em inglês), um ‘think-tank’ (grupo de reflexão) com sede nos Estados Unidos, Moscovo pretende promover a divisão nacional e a instabilidade política, enfraquecendo o apoio dos romenos à UE e à NATO, enquanto aumenta a influência regional da Rússia e diminui o apoio à vizinha Ucrânia.

Num país com um forte sentimento anti-Rússia, é mais eficaz para Moscovo disseminar mensagens falsas que alimentam sentimentos nacionalistas, referiu a especialista, num artigo publicado na página do instituto.

“Um exemplo claro da subtileza das campanhas de desinformação russas” é a “falsa alegação” de que as crianças refugiadas ucranianas recebem maiores dotações financeiras do Estado do que as crianças romenas, “uma narrativa criada para alimentar o ressentimento e semear a divisão”, ilustrou Antonia Colibasanu.

Em 17 de dezembro, a Comissão Europeia abriu um processo formal contra o Tiktok por suspeitas de violação da integridade das eleições na Roménia.

O executivo comunitário suspeitava que a empresa não cumpriu a sua obrigação de “avaliar e atenuar adequadamente os riscos sistémicos ligados à integridade das eleições, nomeadamente no contexto das recentes eleições presidenciais romenas de 24 de novembro”.

O TikTok afirmou querer colaborar com as autoridades: “Reconhecemos que a eleição presidencial romena é um evento significativo sob intenso escrutínio público”, indicou, num comunicado, quando revelou ter desativado, entre novembro e dezembro, dezenas de milhares de contas e removido quase 93 mil perfis falsos.

Na semana passada, a plataforma anunciou o lançamento do Centro Eleitoral Romeno, uma nova campanha de literacia mediática e um “trabalho contínuo” com mais de 20 parceiros de verificação de factos, medidas que “reforçam” a atuação do TikTok para “proteger a plataforma e ligar a comunidade a informações eleitorais fiáveis”.

Bruxelas reconheceu a resposta da rede social.

“Em relação às próximas eleições na Roménia, em maio, congratulamo-nos com as alterações introduzidas pelo TikTok. Estas incluem uma melhor deteção e rotulagem de contas políticas e mais peritos em língua romena, bem como 120 peritos adicionais para o grupo de trabalho eleitoral romeno que trabalha especialmente em campanhas de influência encobertas e integridade da publicidade”, afirmou no início de abril a comissária europeia para a Tecnologia, Henna Virkkunen Virkkunen.

*** Joana Haderer, enviada da agência Lusa ***

JH // SCA

By Impala News / Lusa

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