Sapadores dizem que usaram petardos para que Governo os ouvisse
Os bombeiros sapadores alegaram hoje ter usado petardos para serem ouvidos pelo Governo, que acusam de recusar negociar aumentos para os profissionais, e prometem aumentar as ações de protesto.
“Fazemos um bocadinho de barulho e cai o Carmo e a Trindade. Isto é uma negociação, não brinquem connosco”, afirmou um dos bombeiros sapadores que se juntaram junto ao edifício do Governo para acompanhar a comissão sindical, que teve hoje uma reunião com os secretários de Estado da Proteção Civil, Administração Pública e da Administração Local e Ordenamento do Território.
Durante a manhã, três centenas de bombeiros sapadores dirigiram-se à sede do Governo com tochas, fumos e petardos, uma ação criticada pelo Governo, que decidiu suspender a negociação, pelas 11:30. O Governo disse “não aceitar negociar perante formas não ordeiras de manifestação”, considerando que “não estão em causa, até ao momento, as condições de segurança”, segundo fonte oficial.
Os sindicatos insistiram na continuação da reunião até às 13:30, ocasião em que se dirigiram aos profissionais reunidos no exterior do edifício. Leonel Mateus, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS), criticou a decisão do Governo de “fechar as negociações”, pelo que irão analisar “novas formas de luta”.
“Depois não venham pedir aos bombeiros para não fazerem greve ou não fecharem quartéis”, disse o dirigente, que criticou a proposta levada à mesa pelo executivo. “A nossa posição nunca seria aceitar qualquer proposta que venderia a dignidade dos bombeiros” e o que o Governo apresentou “tinha um ligeiro avanço da proposta anterior do Governo, mas aquém daquilo que nos comprometemos convosco”, acrescentou.
Na atribuição do suplemento de função, “a troco de 10%, o Governo queria que os bombeiros sapadores trabalhassem mais 31 horas por mês” e, no que respeita ao subsídio de risco, o aumento proposto previa que “chegasse aos 100 euros dentro de três anos”, algo que os bombeiros consideram “inaceitável”.
“Estamos a falar de uma carreira que não é revista há 22 anos e não é com 100 euros que o governo nos vem comprar”, afirmou o dirigente. A sua intervenção foi interrompida várias vezes no plenário improvisado, com os bombeiros sentados no chão. “Nunca houve uma proposta séria do governo. Vamos pensar, vocês estão connosco e nós estamos com os sindicatos”, respondeu um dos bombeiros que ouvia a intervenção de Leonel Mateus: acrescentando: “se querem entrar por outras vias, vamos entrar por outras vias”.
Os ânimos exaltaram-se quando falou José Abraão, secretário-geral da Federação de Sindicatos da Administração Pública (Fesap). “O senhor não nos representa”, “não é bombeiro”, “nunca nos ligaram nenhuma”, ouviu-se quando o dirigente se tentou dirigir aos sapadores presentes. Muitos dos bombeiros sapadores queixam-se que os sindicatos mais abrangentes, como a Fesap ou da administração local, nunca ligaram às reivindicações.
“Preferiram sempre embrulhar as nossas queixas nas negociações gerais e por isso é que não nos sentimos representados”, explicou um dos bombeiros. Apesar de alguns protestos, José Abraão conseguiu pegar no megafone para dizer que “os sindicatos não aceitaram a suspensão deste processo negocial”, imposta pelo executivo.
“Por isso, estaremos sempre dispostos, quando o Governo quiser, para negociar em defesa dos bombeiros sapadores para que todos tenham mais e melhor salário”, afirmou ainda. Já a bombeira Frederica Pires também falou para dirigir ao Governo a responsabilidade sobre o que possa suceder.
“É responsabilidade do Governo. Fizemos vigílias e não nos ouviram, mandámos petardos, não contra jornalistas ou contra polícias, porque é a única forma que podemos fazer sem ser fechar quartéis”, afirmou. “Fomos sempre respeitadores e sempre fizemos a nossa função”, mas “as tomadas de força vão sempre ser gradativas como o governo quiser”, avisou.
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