Representantes do Estado angolano negam participação acionista na CIF Angola

O Tribunal Supremo voltou a adiar hoje a sessão do julgamento que envolve os generais angolanos “Kopelipa” e “Dino”, depois de representantes do Estado angolano negarem que este seja proprietário da sociedade China International Fund (CIF) Angola, arguida no processo.

Representantes do Estado angolano negam participação acionista na CIF Angola

A sétima sessão do julgamento, em que são arguidos Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”, Leopoldino Fragoso do Nascimento (Dino), Fernando Gomes dos Santos, Yiu Haiming e as empresas CIF, Plansmart International Limited e Utter Right International Limited, ficou também marcada pela ausência de um representante da arguida CIF Angola.

O julgamento teve início a 10 de março deste ano e decorreu até às questões prévias, altura em que o tribunal se apercebeu da ausência da arguida CIF, que não se encontrava representada por mandatário judicial nem por defensor oficioso.

A partir daquela altura, o tribunal oficiou a empresa e o Estado no sentido de enviarem representantes, mas sem sucesso.

Hoje, dois representantes do Ministério da Indústria e Comércio e do Instituto de Gestão de Ativos e Participações do Estado (IGAPE) compareceram em tribunal, para tirar dúvidas sobre a quem pertencem neste momento as participações sociais e os ativos do universo CIF.

O representante do Ministério da Indústria e Comércio confirmou a receção, por termo de entrega, de ativos “voluntariamente entregues ao Estado” àquele departamento ministerial na condição de responsável pela política industrial.

Segundo o diretor do gabinete jurídico do Ministério da Indústria e Comércio, Gilberto Dilo, estão sob tutela do Estado, no âmbito do processo de recuperação de ativos, quatro propriedades, das quais três indústrias e um centro logístico.

Questionado pela juíza se as empresas estão em poder do Estado, Gilberto Dilo esclareceu que “o Ministério da indústria e Comércio não é acionista da empresa CIF”.

“O património que está sob sua responsabilidade era de acionistas, que o passaram em função do acordo celebrado com o Estado”, aclarou.

Por sua vez, o representante do IGAPE afirmou que a instituição “não tem sob sua posse qualquer participação social pertencente à empresa [CIF]”.

Em declarações à imprensa, o advogado de defesa dos generais “Kopelipa” e “Dino”, João Gourgel, referiu que a audiência serviu apenas para resolver a questão da representatividade da sociedade CIF, cujos ativos industriais foram entregues ao Ministério da Indústria e Comércio.

“Os representantes vieram dizer que eles apenas receberam o património e não receberam as participações sociais. Não tendo recebido as participações sociais, que é o ponto de vista deles, eles não são sócios nem representantes”, sublinhou.

João Gourgel disse que a defesa entende que o Ministério da Indústria e Comércio recebeu quer as participações sociais quer o património correspondente.

“Nós temos documentos que comprovam sem margem para qualquer dúvida que foi entregue a empresa IF [Investimentos Financeiros] que representa 60% do capital social da CIF e o património correspondente a esses 60%. Na altura oportuna, vamos mostrar os documentos que temos em nosso poder”, referiu.

Por sua vez, o advogado Benja Satula, representante da Utter e da Plansmart, lamentou a postura do tribunal que deu a palavra ao Ministério Público para se pronunciar, sem proceder da mesma forma com a defesa.

“A Constituição recomenda que o tribunal tem que fazer respeitar o princípio do contraditório e todo o Código do Processo Penal diz que a audiência é contraditória. Sempre que se der a palavra ao Ministério Público, o tribunal deve, em igualdade de circunstâncias, dar a palavra à defesa”, salientou.

Benja Satula referiu que não faz sentido notificar instituições que comparecem em tribunal para dizer que nada têm a ver com o assunto e questionou: “se não são donos porque é que alienam, contratam, movimentam contas?”.

No mês passado, o Governo leiloou cinco empresas, nomeadamente a Fábrica de Cimentos CIF, o Centro de Logística CIF, a Fábrica de Cerveja (CIF Lowenda) e a Unidade de Montagem de Automóveis CIF.

A juíza relatora Anabela Valente disse que, depois de várias notificações à CIF, sem sucesso, vão ser feitas publicações em editais e, não se fazendo presente, o julgamento prossegue à revelia da arguida CIF.

Os coarguidos são acusados dos crimes de peculato, burla por defraudação, falsificação de documentos, associação criminosa, abuso de poder, branqueamento de capitais e tráfico de influências.

A próxima sessão de julgamento foi remarcada para o dia 26 deste mês.

 

NME // MLL

By Impala News / Lusa

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