PCP desafia Montenegro a preocupar-se com coesão nacional antes de falar sobre coesão na UE
O secretário-geral do PCP desafiou hoje o primeiro-ministro a olhar para a coesão nacional antes de falar em deixar de ser um país da coesão na UE, defendendo que só se consegue ajudar outros resolvendo primeiro os problemas internos.
Em declarações aos jornalistas após uma visita ao Museu do Aljube, em Lisboa, Paulo Raimundo foi questionado sobre o “objetivo nacional”, assumido esta manhã pelo primeiro-ministro, para que Portugal deixe de ser um país da coesão e passe a contribuinte líquido da UE, podendo ser solidário com os novos Estados que venham a aderir à comunidade.
Na resposta, o líder do PCP defendeu que “há qualquer coisa que não pode estar bem” nestas palavras de Luís Montenegro, salientando que há “dois milhões de pessoas no limiar da pobreza”, 230 mil das quais são crianças, e “três milhões de trabalhadores que ganham até mil euros de salário bruto por mês”.
“Talvez é melhor o senhor primeiro-ministro olhar para a realidade nacional e a primeira questão que tem de fazer é: como é que nós vamos resolver o problema da coesão económica e social do nosso país? Para a coesão económica e social, o que é preciso fazer o Governo não tem nenhum interesse em fazer: é combater as injustiças e as desigualdades”, sustentou.
Paulo Raimundo afirmou que o primeiro-ministro “vem falar da coesão e em ser contribuinte líquido para outros”, mas esquece-se que “a Galp meteu ao bolso 333 milhões de euros” no primeiro trimestre deste ano, e o BPI “121 milhões, 74 dos quais à custa de comissões e taxas”.
“Senhor primeiro-ministro, valorizo o espírito solidário – nós também acompanhamos a solidariedade com outros povos, não é isso que está em causa -, mas a única forma de nós ajudarmos outros é resolvendo os nossos problemas, para isso permitir estarmos em condições de poder ajudar outros”, afirmou.
Interrogado se, para o PCP, é importante mais soberania e menos Europa, Paulo Raimundo contrapôs que não percebe “como é que pode haver mais Europa sem mais soberania, sem mais independência”.
“São os países soberanos, com mais instrumentos na sua mão – desde logo, com instrumentos económicos – que estão em condições de responder às necessidades do país e do povo e, cada vez que um país responde às necessidades do país e do povo, está a caminhar no sentido positivo do ‘mais Europa'”, sublinhou.
Questionado se considera que seria positivo para Portugal o ex-primeiro-ministro António Costa ser presidente do Conselho Europeu, o líder comunista recuou aos tempos em que Durão Barroso foi presidente da Comissão Europeia para recordar o seu “contributo para a guerra do Iraque e para chamar a ‘troika'”.
“Não estou a dizer que Durão Barroso e António Costa são o mesmo, que o pensamento é o mesmo, não é nada disso: só estou a dizer que essa ideia de que ter um português à frente disto ou daquilo é uma vantagem para o país é uma falácia completa”, argumentou.
Já questionado se concorda com o novo modelo de debates para as eleições europeias acordado entre as televisões e partidos – um total de seis debates com quatro candidatos -, o líder do PCP respondeu que, depois do “trás e para a frente que houve”, apesar de tudo “uma solução que, não sendo ideal, corresponde a um conjunto de preocupações”.
Sobre a sua visita ao Museu do Aljube, Paulo Raimundo disse ter tido o privilégio de ter percorrido a exposição acompanhado por Domingos Abrantes – que, ironizou, foi um “inquilino” do Aljube – e salientou que o local é um “museu vivo da história, da resistência” e um “exemplo da memória que é preciso não perder”.
“Não há futuro sem memória, não há futuro sem nós não nos esquecermos do que passámos”, disse, recusando que, na sociedade portuguesa, a memória do fascismo se esteja a esmorecer.
“Essa memória está viva. (…) Com as comemorações populares do 25 de Abril ficou evidente que o povo não só não esqueceu, como está com força e determinação para afirmar que o caminho é o caminho de Abril e não o caminho que está a ser”, disse.
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By Impala News / Lusa
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