Paramilitares das RSF dizem estar a formar um governo paralelo no Sudão
O líder do grupo paramilitar sudanês RSF, uma das partes em conflito no Sudão, anunciou a formação de um governo paralelo de “paz e unidade”, que substituirá o executivo atual, controlado pelo Exército, e prometeu continuar a guerra civil.

Num discurso gravado na terça-feira, dia em que se completava o segundo ano de guerra naquele país africano, o General Mohamed Hamdan Dagalo, líder dos paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF), apelou à União Africana (UA) para que reconheça o seu governo, que disse ser da “vontade democrática do povo sudanês”, ao mesmo tempo em que pediu ao Presidente dos EUA, Donald Trump, que aja para “acabar com a guerra” no Sudão.
“Neste aniversário, declaramos com orgulho o estabelecimento do Governo de Paz e Unidade”, afirmou Dagalo, acrescentando que outros grupos juntaram-se à administração liderada pelas RSF, incluindo uma fação do Movimento de Libertação do Sudão, que controla partes da região sudanesa do Cordofão.
O general, que foi alvo de sanções pelos EUA por acusações de que as suas forças cometeram genocídio em Darfur, adiantou que também está a ser criar “um Conselho Presidencial de 15 membros”, representando todas as regiões do Sudão.
O líder das RSF adiantou que o seu executivo “representará uma carta política e uma Constituição histórica de transição para um novo Sudão”.
O responsável afirmou que o seu governo não agirá apenas nas regiões controladas pelas RSF, mas “em todo o Sudão”, e tomaria medidas executivas, incluindo “a impressão de uma nova moeda e a emissão de cartões de identidade nacionais, para garantir que nenhum cidadão sudanês seja privado de seus direitos básicos”.
Este anúncio foi feito depois de as RSF e vários outros grupos civis e rebeldes assinarem um acordo em Nairobi, capital do Quénia, em fevereiro último, para a formação de um governo paralelo, dizendo que a medida tinha como objetivo acabar com a guerra devastadora que assola o país desde 15 de abril de 2023.
O conflito, que transformou o Sudão no pior palco de crise humanitária do mundo, foi desencadeado pelo fracasso das negociações para a integração dos paramilitares no exército sudanês, como parte de um processo de transição política no país.
Desde o início da guerra, dezenas de milhares de pessoas foram mortas e mais de 12 milhões estão deslocadas, das quais mais de três milhões procuram refúgio nos países vizinhos, principalmente no Sudão do Sul, Chade e Egito.
O anúncio de Mohamed Hamdan Dagalo ocorre num momento de avanços contínuos do exército sudanês, que nos últimos meses expulsou os paramilitares do leste do país, bem como de Cartum, a capital, e da maioria das cidades que eles controlavam, como Omdurman.
As RSF agora controlam partes do Cordofão central, bem como os cinco estados da vasta área de Darfur, com exceção de Al-Fashir, a capital do estado de Darfur do Norte e a única fortaleza do exército no oeste do país, na fronteira com a Líbia e o Chade.
Os paramilitares intensificaram os seus ataques a Al-Fashir nos últimos dias e, pouco antes de se completar o segundo aniversário da guerra, anunciaram a tomada do maior campo de deslocados internos nos arredores daquela cidade.
Nesse campo, Zamzam, pelo menos 400 pessoas deslocadas foram mortas e mais de 400.000 foram retiradas para outros lugares, de acordo com a ONU.
A situação atual faz de Al-Fashir um “ponto crucial” no conflito, porque, de acordo com especialistas árabes e locais, poderia servir como base para o governo paralelo para os paramilitares.
ATR // VM
By Impala News / Lusa
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