Pai pede justiça após morte do filho em incidente com a polícia em Moçambique

Fernando Fumo pede justiça, uma semana depois de ter enterrado o filho, que terá sido baleado por agentes da polícia moçambicana, num bairro de Maputo, após partir o vidro de um carro da corporação.

Pai pede justiça após morte do filho em incidente com a polícia em Moçambique

Qualquer dinheiro de indemnizações “não é nada”, diz o pai da vítima de confronto com a Polícia de Moçambique, que ainda aguarda por explicações detalhadas sobre o que se passou e sobre o que está a ser feito para apurar responsabilidades. “Eu só quero justiça ou que me expliquem por que o mataram”, diz. César Fumo, de 34 anos, trabalhava a carregar botijas de gás pela cidade e na noite de 19 de junho foi até um bar após o serviço, falando ao telefone com a mãe pelas 21h30. Depois disso não voltou a atender o telefone e não souberam sequer do seu paradeiro durante 10 dias.

A família foi a vários hospitais, morgues, postos da polícia, espalhou panfletos e fotos nas redes sociais. O corpo foi encontrado em 29 de junho, na morgue do Hospital Central de Maputo (HCM), por Fernando Xavier, cunhado da vítima, a pouco tempo de ser conduzido para um enterro coletivo numa vala. “Estou muito triste com a reação da polícia”, referiu, uma vez que “levaram o telefone e não deixaram nenhuma pista”. “Isso ocorreu próximo de uma esquadra, mas nem deixaram nenhuma informação lá”, descreveu.

Ao pouco que foi sendo contado à família, elementos da Polícia da República de Moçambique (PRM) acrescentaram que César estaria embriagado e não tinha documentos na altura do incidente. Seja como for, Xavier não tem dúvidas em apontar os agentes como responsáveis pela morte, algo admitido por dirigentes da PRM ao pai, Fernando Fumo, em mais que uma conversa. Membros da polícia estiveram inclusivamente presentes no funeral. “A polícia aceita o que fez. Estiveram aqui no funeral, trouxeram um apoio em produtos alimentares”, disse o pai.

Mas pede justiça: “Eu não quero que [o caso] fique assim. Se eles mataram o meu filho só porque partiu um vidro, eu ia desenrascar dinheiro para pagar. Peço mesmo a quem de direito para resolver isso”, frisa. Vitória Luciana, irmã de César, lamenta a forma como tudo foi ocultado. “O meu irmão saiu para nunca mais voltar. Quando fomos à esquadra a que supostamente pertencem os agentes que o mataram, não nos mostraram sequer o carro com o vidro que ele partiu”, conta, indignada. “Queremos justiça”, acrescenta Vitória.

“Já perdemos o nosso membro, mas para que isso não aconteça mais gostaria que quem de direito seguisse esse caso” e que “disciplinasse” os agentes, para que “nunca mais se repitam casos do género”, apela Fernando Xavier. O Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização da sociedade civil moçambicana, diz que a PRM terá agido com “crueldade”, não informando os familiares sobre o ocorrido.

“Se ao agente da PRM é assegurado o mandado de garantir a segurança de pessoas e bens, ele não deve agir no sentido contrário, senão para preservar um bem maior”, refere o CDD, numa nota enviada à comunicação social. Para a organização, o comandante-geral da polícia, Bernardino Rafael, devia “reconhecer publicamente o grave crime cometido pelos seus agentes e chamar os prejudicados para a resolução extrajudicial do diferendo”, acrescenta.

Os pedidos de esclarecimentos à Polícia da República de Moçambique (PRM) foram remetidos para altura oportuna e, após insistências, não houve mais respostas. Ao canal de televisão STV e portal O País, que primeiro reportaram a história, em 2 de julho, a polícia prometeu também pronunciar-se oportunamente, mas não foi divulgada mais informação.

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