ONG exige a Macau que deixe jornalistas trabalhar “sem receio de represálias”
Uma organização não-governamental (ONG) disse hoje à Lusa que os jornalistas devem poder trabalhar “sem receio de represálias”, após as autoridades de Macau terem excluído a imprensa ‘online’ e mensal de três eventos públicos.

“Apelamos ao Governo de Macau para que garanta que os jornalistas não são impedidos de fazer o seu trabalho de manter os cidadãos informados”, disse a coordenadora para a Ásia do Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), Beh Lih Yi.
Desde 08 de maio, o executivo de Macau organizou três eventos públicos nos quais apenas permitiu a presença de repórteres de jornais diários e semanais, estações de televisão, rádio e agências de notícias.
O Gabinete de Comunicação Social (GCS) do Governo de Macau disse à Lusa que a exclusão da imprensa ‘online’ e mensal era “prática comum” e que dependia das entidades organizadoras dos eventos públicos.
Uma justificação repetida, usando praticamente as mesmas palavras, pelo Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia e pela Autoridade Monetária de Macau, organizadores de eventos, em 08 e 12 de maio, que excluíram imprensa ‘online’ e mensal.
Hoje, numa nota sobre um evento organizado em conjunto por seis entidades públicas e difundida pelo GCS, a imprensa ‘online’ e mensal foi excluída “devido ao espaço limitado no local”.
“Os jornalistas devem poder cobrir eventos de interesse público sem receio de represálias”, defendeu Beh Lih Yi.
Em 17 de abril, duas jornalistas do All About Macau, um jornal ‘online’ com uma versão mensal em papel, foram detidas pela polícia quando tentavam entrar no salão do parlamento local para assistir à apresentação do programa político na área da Administração e Justiça para 2025.
A Assembleia Legislativa alegou que houve uma “grande afluência” de jornalistas e que “o espaço para entrevistas, bem como os lugares disponíveis na sala do plenário são limitados”.
“Tem-se assistido a uma erosão sistemática da liberdade de imprensa em Macau, com a negação de entrada a jornalistas e o acesso restrito a eventos públicos”, alertou a coordenadora para a Ásia do CPJ.
“A detenção de duas repórteres simplesmente por tentarem cobrir uma sessão legislativa marca uma escalada perturbadora na repressão do jornalismo independente”, lamentou Beh Lih Yi.
A dirigente defendeu que “as autoridades devem retirar quaisquer potenciais acusações contra as repórteres do All About Macau e permitir que os jornalistas trabalhem sem interferências”.
A publicação ‘online’ e mensal acusou a Assembleia Legislativa de impedir “repetidamente os jornalistas do All About Macau de realizarem o seu trabalho normal de reportagem sob falsos pretextos”.
A Associação de Jornalistas de Macau, liderada por uma das jornalistas detidas, Ian Sio Tou, já tinha expressado anteriormente preocupação com o aumento de eventos oficiais sem cobertura da comunicação social e de “práticas discriminatórias” para com o setor.
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By Impala News / Lusa
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