Motins no Reino Unido alimentados por extrema-direita desiludida com eleições

Os motins violentos no Reino Unido em protestos anti-imigrantes são alimentados por uma extrema-direita extraparlamentar inconformada com os resultados das eleições europeias e britânicas, considera o sociólogo italiano Leonardo Palmisano.

Motins no Reino Unido alimentados por extrema-direita desiludida com eleições

Em entrevista à Lusa, Palmisano, autor de um livro recém-publicado sobre a xenofobia em Itália (“Italiapartheid”), diz acreditar que “existe uma ‘Internacional’ da direita extraparlamentar, ou seja, da direita neofascista e neonazi europeia”, que está “por detrás” da violência que tem sacudido várias localidades do Reino Unido.

De acordo com o sociólogo, apesar de o ‘mote’ para a espiral de violência ter sido o assassínio de crianças por um jovem filho de imigrantes em Southport (noroeste de Inglaterra), há uma óbvia correlação entre o que está a suceder e a vitória esmagadora alcançada semanas antes pelo Partido Trabalhista nas eleições gerais no Reino Unido — que pôs fim a 14 anos de governos conservadores -, assim como os resultados aquém do esperado da extrema-direita nas eleições europeias de junho passado.

“Pensei logo [no início dos motins] que as coisas estão correlacionadas. Há uma evidente reação da extrema-direita europeia ao sucesso extraordinário do Partido Trabalhista. Há uma orientação europeia para estas manifestações”, diz Leonardo Palmisano à Lusa, manifestando-se convicto de que “a Inglaterra foi escolhida porque a esquerda venceu” as eleições de 04 de julho.

O Reino Unido tem sido abalado por uma série de motins violentos, segundo as autoridades, convocadas por grupos de extrema-direita, depois da morte, a 29 de julho passado, de três crianças (uma delas lusodescendente) assassinadas à facada por um jovem britânico filho de migrantes em Southport (noroeste de Inglaterra).

Os grupos reagiram após a circulação de informações falsas nas redes sociais, alegando que o agressor era um requerente de asilo muçulmano, quando na verdade era um rapaz de 17 anos – Axel Rudakubana – nascido no País de Gales, filho de pais ruandeses, e desde então já foram detidas centenas de pessoas por atos de violência.

Apontando que os maiores problemas que os britânicos enfrentam não se devem naturalmente à imigração, mas antes ao ‘Brexit’, a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) promovida pela direita, o sociólogo considera que “o verdadeiro objetivo é construir uma grande plataforma da extrema-direita europeia, neofascista e neonazi, aproveitando o facto de a direita institucional estar a falhar” nas respostas aos temas fraturantes da sociedade, “incluindo a direita de [Giorgia] Meloni”, a primeira-ministra italiana, “e assim levarem os governos, como no caso de Itália, a serem ainda mais duros com os estrangeiros”.

“O meu receio é que as forças da extrema-direita, sobretudo extraparlamentar, continuem a alimentar as manifestações de massa, em parte porque estão desiludidas com os resultados da direita radical institucional nas eleições europeias” de junho.

Na sequência das eleições para o Parlamento Europeu, vencidas uma vez mais pelo Partido Popular Europeu (PPE, centro-direita), seguido dos Socialistas Europeus, foi estabelecida uma aliança de centro-direita e centro-esquerda, que reelegeu Ursula von der Leyen para a presidência da Comissão Europeia, designando ainda o ex-primeiro-ministro português António Costa para a presidência do Conselho Europeu (com o voto contra de Meloni), tendo a extrema-direita falhado o objetivo de finalmente chegar a posições de poder no palco europeu.

Perspetivando o futuro, o sociólogo diz recear que o fenómeno de violência xenófoba e racista contra os estrangeiros patrocinada pela extrema-direita em vários países europeus não abrande e, pelo contrário, se agrave, pois “o fluxo de requerentes de asilo provavelmente até aumentará, face aos conflitos em curso no mundo”.

“No mesmo sentido, aumentará a propaganda da extrema-direita, pelo que é necessário, a meu ver, que a UE torne realmente operacionais os corredores humanitários, que protejam os imigrantes, incluindo das agressões da direita fascista, mas também das polícias europeias que são cúmplices dessa extrema-direita”, diz, notando que “são os governos que mandam nas polícias e, com governos manifestamente de direita, as forças policiais têm a mão ainda mais pesada no confronto com os imigrantes”, caso dos abusos policiais registados na Grécia.

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By Impala News / Lusa

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