Moçambique/Eleições: Estrada que dá à Praia do Bilene também serve para pedidos a candidatos

Junto às águas turquesa e dunas de areia branca escondidas pela vegetação, uma estrada concentra o rebuliço do município moçambicano da Praia do Bilene, entre turistas, artesãos, mototaxistas e pedidos aos candidatos às autárquicas de 11 de outubro.

Moçambique/Eleições: Estrada que dá à Praia do Bilene também serve para pedidos a candidatos

“A nossa preocupação é ter um espaço adequado para seguir com as nossas atividades. Temos esse sonho, e de ensinar o que aprendemos com os nossos ‘mais velhos’, ensinar às nossas crianças o que fazemos”, explica à Lusa Miguel Nambora, 38 anos, um dos oito artesãos da Vila da Praia do Bilene, no litoral da província de Gaza, a 145 quilómetros de Maputo.

É naquela rua central do município, a 100 metros da praia, que esculpe e vende as peças em madeira, de todo o tipo e formatos, inspirados em animais ou na cultura moçambicana, em conjunto com os colegas, que até formaram uma associação própria. Para as eleições autárquicas, o desejo de um espaço para estes artesãos venderem e ensinarem é praticamente o único que apresentam aos candidatos a estas eleições no Bilene, município desde 2014, que vai para a sua terceira eleição autárquica, entre as seis que Moçambique já realizou.

“Estamos aqui no passeio. É muito difícil uma mãe aceitar que a criança aprenda aqui”, desabava Miguel Nambora, escultor em madeira desde 2009 e que trocou Maputo por aquela vila turística.

Numa semana marcada pelos últimos cartuchos da campanha eleitoral também no Bilene, onde 8.200 eleitores estão inscritos para votar, Cremilde Chivangue, 42 anos, dos quais 22 como escultor em todo o tipo de madeira, como pau preto e mafureira, não esconde que ter um mercado de artesanato seria “uma honra” e ao mesmo tempo serviria para ensinar os mais jovens.

“Para não se meterem nas drogas, nos vícios. Há muitos jovens que já estão perdidos devido à falta de ocupação”, conta.

No fundo, relata o também presidente da Associação de Artesãos da Vila da Praia do Bilene, “transmitir o conhecimento” às novas gerações, sem ser no que resta do passeio da rua, como agora.

Aquela mesma rua é palco principal da passagem de turistas a caminho da praia, espaço para bancos, restaurantes, padarias e também do mercado, além de paragem central dos motoxistas da vila. É o caso de Alírio Chavala, 19 anos, que já estudou as propostas dos candidatos à autarquia e que já sabe em quem vai votar na primeira vez que é chamado às urnas. Tal como a reclamação que tem a fazer.

“Recuperar as estradas, fazer as limpezas, a drenagem. As águas das chuvas ficam na estrada”, refere o mototaxista, reconhecendo que o estado destas vias dificulta o seu trabalho e por isso devia ser uma prioridade do município.

“A vila está ‘good’, mas há coisas que precisam de ser reparadas”, afirma, reclamando ainda por uma “praça” em condições para estes trabalhadores. É que são algumas dezenas que se concentram naquele local, ao sol ou à chuva, todo o dia, a partir das 06:00, à procura de clientes, recorrendo a motorizadas cedidas pelo mesmo patrão.

“Está difícil. Não há emprego aqui”, desabafa.

Reivindicações, como o estado da estrada ou a falta de uma praça, que o mototaxista Joaquim Sitoe, 23 anos, que se prepara para votar em eleições autárquicas pela segunda vez, partilha igualmente: “Não é uma estrada adequada para qualquer mototaxista. As nossas motorizadas é que nos ajudam a alimentar em casa. Dependemos da estrada e da nossa praça, não temos local indicado para ficar”.

Ainda assim, um trabalho que apesar destas dificuldades, “ajuda” a pagar as contas em casa, a qual compartilha, além da mulher do filho, com o irmão e a cunhada.

“Com melhores condições, íamos ganhar mais uns centavos”, reconhece Sitoe.

É também junto a esta rua, onde quase tudo funciona, no acesso à procurada praia do Bilene, que Laura António, 37 anos vende há cinco anos peixe e marisco, apanhado localmente, numa loja alugada no mercado central.

“Agora não há negócio porque os clientes já não estão entrar bem na nossa vila”, diz, reclamando dos candidatos que tornem a vila “mais organizada e bonita”.

Ali, ter um espaço para vender é decisivo e só os que “chegam de fora” e que “têm dinheiro” conseguem o melhor espaço: “Na mesma barraca estamos a ficar cinco e seis pessoas, não temos espaço”.

É por isso que Laura António, que com este negócio está a criar as duas filhas que tem em casa, não tem dúvidas sobre o pedido aos candidatos: “Um espaço para fazer uma barraquinha”.

Mais de 11.500 candidatos de 11 partidos políticos, três coligações de partidos e oito grupos de cidadãos estão há cerca de uma semana em campanha eleitoral, que termina em 08 de outubro.

Para as eleições de 11 de outubro estão inscritos para votar em todo o país mais de 8,7 milhões de eleitores, segundo dados anteriores da Comissão Nacional de Eleições.

Os eleitores moçambicanos vão escolher 65 novos autarcas em 11 de outubro, incluindo em 12 novas autarquias, que se juntam a 53 já existentes.

PVJ // VM

By Impala News / Lusa

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