Líder deposto acusa CEDEAO de legitimar usurpação de poder no parlamento guineense

O presidente deposto do parlamento da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, acusou hoje a delegação da CEDEAO, que se encontra no país, de legitimar a usurpação ao reunir-se com os que qualifica de “assaltantes do poder”.

Líder deposto acusa CEDEAO de legitimar usurpação de poder no parlamento guineense

Uma delegação de alto nível da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) está esta semana em Bissau para mediar a crise política em torno das eleições presidenciais e legislativas, que o Presidente, Umaro Sissoco Embaló, anunciou entretanto para 30 de novembro e que a oposição exige para maio.

Um dos encontros da delegação da CEDEAO é com a comissão permanente da Assembleia Nacional Popular, presidida por Adja Satú Camará, indicada para substituir o presidente eleito, Domingos Simões Pereira, alguns meses depois de o chefe de Estado ter dissolvido o parlamento, em dezembro de 2023.

Domingos Simões Pereira, líder da coligação PAI-Terra Ranka, afastada do poder, e do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), encontra-se fora do país e tem convocado reuniões online da comissão permanente a que presidia antes de ser substituído.

Uma dessas reuniões terá decorrido hoje, segundo uma deliberação assinada por Domingos Simões Pereira, e o assunto em análise foi a agenda de reuniões da Missão da CEDEAO com “os assaltantes da Assembleia Nacional Popular”, lê-se no documento.

Na deliberação, que tem a indicação de que vai ser enviada às autoridades superiores da organização internacional, a conduta da Missão da CEDEAO é entendida como “subversão institucional e intolerável desconsideração aos legítimos titulares” do órgão e que “respalda a tentativa de golpe institucional perpetrada pelo regime instalado na Guiné-Bissau”.

A comissão permanente presidida por Simões Pereira apresenta “o seu veemente protesto” e repudia “a reunião realizada entre a Missão da CEDEAO e os usurpadores dos poderes constitucionais do Parlamento da Guiné-Bissau”.

“Porque tal inculca a ideia da legitimação de mais este golpe de Estado institucional, prejudicando e comprometendo fortemente o papel [da missão da CEDEAO] de apoio e facilitação do processo de retorno à normalidade constitucional, conforme expectativa desta comissão permanente”, insiste.

O documento tornado público refere-se ainda ao mandato de Umaro Sissoco Embaló, para reiterar que “termina no dia 27 de fevereiro de 2025 às 14H50”.

Entre as deliberações enumeradas consta a exigência de que, “findo o mandato, todos os parceiros bilaterais e multilaterais, em particular a CEDEAO, deixem de o tratar [a Sissoco Embaló] como legítimo representante do Estado da Guiné-Bissau, considerando a partir dessa data uma interferência indevida e uma intromissão nos assuntos internos da Guiné-Bissau, qualquer tratamento, convites ou visitas oficiais nessa qualidade”.

Finalmente é colocada “novamente à disposição dos órgãos superiores da CEDEAO a última deliberação desta Comissão Permanente, bem como o comunicado conjunto das coligações dos partidos políticos guineenses, que representam mais de 80% dos deputados que compõem a Assembleia Nacional Popular”.

A missão da CEDEAO está em Bissau até sexta-feira, na semana em que Umaro Sissoco Embaló completa cinco anos de mandato, na quinta-feira.

O chefe de Estado anunciou, no dia em que começava a missão, que vai convocar eleições gerais, presidenciais e legislativas, para 30 de novembro, apesar de a lei eleitoral guineense fixar, regra geral, o período entre 23 de outubro e 25 de novembro para a realização de eleições.

Depois de insistir que as presidenciais deviam ocorrer antes do fim do mandato, a oposição pede agora eleições para maio e há também vozes a pedir a substituição do Presidente a partir do dia 27 de fevereiro.

O mesmo foi pedido, há cinco anos, sem efeito, quando o antecessor, José Mário Vaz, completou os cinco anos de mandato em junho e as presidenciais ocorreram cerca de cinco meses depois, em novembro de 2019.

As presidenciais passaram a dominar o debate político, mais de um ano depois da dissolução do parlamento e de as legislativas antecipadas, inicialmente marcadas para 24 de novembro passado e depois adiadas, ainda não terem sido realizadas.

 

HFI // MLL

By Impala News / Lusa

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