Jornalistas levados pela polícia em Macau durante apresentação de programa político

O jornal All About Macau (AAM) disse que dois jornalistas da publicação foram levados hoje pela polícia quando tentavam entrar no salão da Assembleia Legislativa (AL) para assistir à apresentação do programa político do Governo para 2025.

Jornalistas levados pela polícia em Macau durante apresentação de programa político

Em conferência de imprensa, a Polícia de Segurança Pública confirmou que dois jornalistas foram levados pelas autoridades e que se encontram ainda na esquadra.

“O caso está ainda em investigação”, afirmou apenas, cerca das 16:00 locais (09:00 em Lisboa), o subcomissário da PSP de Macau Wong Wai Chon, sem responder por que razão os profissionais do AAM foram retirados da AL, quem apresentou queixa e quais são os próximos passos.

A PSP afirmou, no entanto, que vai emitir um comunicado sobre o caso.

Num vídeo publicado esta manhã pelo jornal ‘online’ nas redes sociais, é possível observar três funcionárias da PSP a tentar retirar uma das jornalistas do AAM da entrada da assembleia, onde o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, estava a apresentar as linhas de ação governativa para este ano.

Nas redes sociais, o jornal escreveu que o pedido dos jornalistas para entrarem na sessão plenária foi recusado, tendo a polícia sido chamada para retirar os dois profissionais, “alegando que eram suspeitos de ‘perturbar o funcionamento das autoridades’ de Macau e de ‘gravação ilegal de vídeo’.

Ainda dentro da assembleia, indicou o jornal, os dois jornalistas receberam um ‘cartão azul’, que obriga a assistir à sessão numa outra sala, através de transmissão televisiva, ordem que se recusaram cumprir.

“Aparentemente, ainda havia lugares vagos” para a comunicação social no salão principal, escreveu o jornal ‘online’.

Os repórteres, continuou o AAM, “defenderam o direito de entrar no hemiciclo e pediram explicações aos funcionários presentes, mas em vão, tendo sido depois levados pela polícia para ‘ajudar na investigação'”.

Os polícias transportaram os jornalistas para “verificação de identidade” e acusaram um deles de “gravação ilegal de vídeo”, referiu-se ainda na nota.

Contactada pela Lusa, a Associação de Jornalistas de Macau (AJM) disse que vai realizar uma reunião da direção para decidir que medidas tomar, pelo que não fará hoje uma declaração.

No passado domingo, esta associação de jornalistas chineses expressou preocupação com o aumento de eventos oficiais sem cobertura da comunicação social e de “práticas discriminatórias” para com o setor.

Desde que o novo Governo de Macau tomou posse, em dezembro último, a AJM “tem vindo a aperceber-se do número crescente de eventos oficiais realizados à porta fechada, resultando em oportunidades significativamente reduzidas para os jornalistas entrevistarem diretamente o chefe do Executivo, secretários e outros altos funcionários”, escreveu a AJM em comunicado.

“Mais de 90% das informações relacionadas com o Governo são agora divulgadas através de comunicados ou de declarações após o evento”, alertou ainda a AJM, manifestando apreensão de que “essa abordagem comunicacional, passiva e retrograda” se transforme no “novo normal”.

Por essa razão, a associação reafirmou a necessidade de o Governo “honrar o compromisso de respeito pela liberdade de imprensa”.

Na nota da AJM, publicada nas redes sociais, são mencionados eventos oficiais que ficaram sem cobertura jornalística, nomeadamente “várias das principais visitas do chefe do executivo”.

Em vários eventos “com a presença dos secretários, não foi emitido qualquer convite” à comunicação social. “Tal cenário não tem precedentes em mais de duas décadas, desde que a RAEM [Região Administrativa Especial de Macau] foi criada”, sublinha-se na nota da publicação.

A AJM questionou na tomada de posição a “exclusão injustificada” de “revistas mensais locais e meios de comunicação ‘online'” — como é o caso da All About Macau – da cobertura de eventos oficiais que “envolvem frequentemente” membros das autoridades.

Essas “práticas discriminatórias”, considerou ainda a associação, têm sido fundamentadas pelo Gabinete de Comunicação Social com “justificações que não convencem” – como a limitação do espaço – tendo esse departamento governamental “sugerido aos jornalistas que ‘assistam à transmissão em direto’ dos eventos, em vez de comparecerem presencialmente”.

Num encontro com a comunicação social em língua portuguesa e inglesa, em janeiro, o chefe do executivo, Sam Hou Fai, sublinhou que a liberdade de imprensa é assegurada pela lei de imprensa de Macau e que o Governo apoia os jornalistas “no correto cumprimento dos seus deveres, na cobertura noticiosa e no acesso a notícias, colaborando ativamente na troca eficiente de informações entre os diversos serviços públicos e o setor”.

CAD // VM

By Impala News / Lusa

Impala Instagram


RELACIONADOS