Israel justifica presença militar na Síria com desagregação do país
O comandante das Forças de Defesa de Israel, Eyal Zamir, justificou hoje a presença militar em “pontos-chave” na Síria porque o país “se desintegrou” após a queda do regime de Bashar al-Assad.

“Este espaço é vital. Entrámos aqui porque a Síria se desintegrou e por isso controlamos pontos-chave e estamos na linha da frente para nos protegermos melhor”, afirmou Zamir na rede Telegram, no seguimento de uma visita aos locais ocupados no sul do país vizinho.
Segundo o comandante das forças israelitas, trata-se de um “ponto estratégico”, que permite ampla observação na cordilheira ao longo da região fronteiriça.
“Não sabemos como as coisas se vão desenvolver aqui, mas a nossa posição é de extrema importância para a segurança”, acrescentou, indicando que os militares israelitas “permanecerão na zona de segurança e protegerão os residentes de qualquer ameaça”.
Israel aumentou as suas incursões militares na Síria após a fuga do ex-Presidente Bashar al-Assad no dia da captura de Damasco, em 08 de dezembro passado, por rebeldes islamitas dirigidos pela Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham (HTS), cujo líder, Ahmed al-Charah, é agora o Presidente de transição.
As tropas israelitas romperam as linhas que demarcavam o território ocupado por Israel nos Montes Golã ocupados do resto da Síria, logo após a queda de Assad, e penetraram na zona desmilitarizada, cuja vigilância é da responsabilidade das Nações Unidas.
Os militares de Israel movem-se agora livremente dentro da zona desmilitarizada acordada no cessar-fogo de 1974 entre a Síria e Israel, que agora considera o entendimento sem efeito após a queda de Assad.
O ministro da Defesa, Israel Katz, reiterou na semana passada, no Monte Hermon, na confluência dos territórios sírio e libanês e nas proximidades da zona rural de Damasco, que as suas tropas permanecerão na Síria por período indefinido com o objetivo de proteger as comunidades israelitas nos Montes Golã ocupados de “qualquer ameaça”.
O governante israelita já tinha avisado Ahmed al-Charah que pagaria um “preço elevado” se a segurança de Israel fosse ameaçada, apesar de as novas autoridades de Damasco não terem respondido às centenas de ataques de Israel ao território sírio desde a queda do regime.
No seguimento de uma vaga de bombardeamentos no início do mês, o Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio condenou uma “escalada injustificada” e uma “tentativa premeditada de desestabilizar a Síria”.
No mesmo sentido, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que apoia o atual Governo de transição na Síria, acusou Israel em 11 de abril de “dinamitar a revolução” ao promover divisões no país desde a queda do regime.
“Não podemos perder a oportunidade que esta revolução nos oferece de alcançar a estabilidade”, afirmou Erdogan, antes de referir que a Turquia é “um dos países que tem vindo a pagar o preço” pela crise no país vizinho e não permitirá esta situação.
Ao mesmo tempo que tentam agrupar nas forças regulares todos os grupos armados existentes na Síria e lidam com a ameaça israelita, as novas autoridades de Damasco procuram igualmente apoios para a reconstrução do país devastado por quase 14 anos de guerra civil.
O ministro das Finanças, Yisr Barnieh, anunciou hoje que vai participar nas reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM), que começam na segunda-feira em Washington.
“Temos uma longa série de reuniões e compromissos bilaterais que esperamos que tenham um impacto positivo no regresso da Síria ao sistema monetário internacional e à comunidade internacional, e que abrirão oportunidades para apoiar os nossos esforços de reconstrução”, disse Barnieh.
O ministro indicou que participará nestas reuniões juntamente com o recém-nomeado governador do Banco Central da Síria, Abdelkader Husrieh, e que ambos discutirão também o reforço institucional, o estabelecimento das bases para a estabilidade financeira e a colocação da economia “no caminho da recuperação”.
Vários países impuseram medidas restritivas à Síria em resposta à repressão imposta pelo regime de Bashar al-Assad às revoltas populares iniciadas em 2011, com amplos registos de violações dos direitos humanos.
Após a queda da dinastia Assad em dezembro, os Estados Unidos e a União Europeia suspenderam algumas das suas sanções em setores específicos, numa tentativa de facilitar a recuperação do país e abrir as portas a uma nova página após anos de falta de relações com Damasco.
Segundo a ONU, cerca de 90% da população síria não tem condições para comprar produtos básicos devido à grave crise no país provocada pela guerra, que fez com que a Síria perdesse cerca de 700 mil milhões de euros em produto interno bruto entre 2011 e 2024.
HB // VM
By Impala News / Lusa
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