Guterres alerta contra qualquer tentativa de “limpeza étnica” em Gaza

O secretário-geral da ONU, António Guterres, irá alertar hoje contra qualquer tentativa de “limpeza étnica” em Gaza num discurso que fará dentro de horas em Nova Iorque, avançou o seu porta-voz, Stéphane Dujarric.

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O discurso de Guterres ocorre um dia depois do Presidente norte-americano, Donald Trump, ter proposto que os habitantes do enclave palestiniano, devastado após 15 meses de guerra entre Israel e o grupo extremista Hamas, sejam reinstalados em outro lugar “permanentemente”, nomeadamente nos países vizinhos Jordânia e Egito.

“É vital permanecer fiel à base do Direito Internacional. É essencial evitar qualquer forma de limpeza étnica”, disse Dujarric, referindo-se a uma parte do discurso que Guterres fará hoje à tarde (hora local em Nova Iorque) perante o Comité sobre o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestiniano.

Questionado especificamente sobre os planos de Trump para a Faixa de Gaza, Stéphane Dujarric frisou que “qualquer deslocamento forçado da população é equivalente a uma limpeza étnica”.

A proposta apresentada por Trump na noite de terça-feira, ao lado do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, desencadeou uma onda de críticas a nível internacional.

“Não acho que as pessoas devam regressar. Não se pode viver em Gaza neste momento. Acho que precisamos de outro local. Penso que deve ser um local que faça as pessoas felizes”, disse Trump.

“Se olharmos para as décadas passadas, só há mortes em Gaza”, avaliou o chefe de Estado norte-americano, acrescentando: “Isto está a acontecer há anos. É tudo morte. Se conseguirmos uma área bonita para reinstalar as pessoas, permanentemente, em casas bonitas onde possam ser felizes e não sejam baleadas e não sejam mortas e não sejam esfaqueadas até à morte como está a acontecer em Gaza”.

Dujarric reconheceu que Guterres ainda não falou com Trump — nem hoje, nem desde que o político republicano regressou à Casa Branca —, mas, segundo acrescentou o porta-voz, falou hoje de manhã com o Rei Abdullah da Jordânia “sobre a situação na região”.

Stéphane Dujarric não forneceu pormenores sobre a conversa com o monarca jordano.

O líder da ONU está muito distante do Governo israelita, com Benjamin Netanyahu a não responder aos telefonemas de Guterres desde 07 de outubro de 2023, data em que o grupo islamita palestiniano Hamas atacou Israel.

Em outubro de 2024, as autoridades israelitas declararam Guterres como “persona non grata”, proibindo a entrada do líder da ONU em Israel. Telavive argumentou na ocasião que Guterres não tinha condenado inequivocamente os ataques conduzidos contra Israel.

Em declarações em Genebra, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, respondeu à proposta do Presidente norte-americano de expulsar os palestinianos da Faixa de Gaza para outros países, lembrando que “qualquer deportação ou transferência forçada de pessoas sem base legal é estritamente proibida”.

Na terça-feira, o enviado da Palestina junto da ONU, Riyad Mansour, pediu que os líderes mundiais respeitem o desejo dos palestinianos de permanecer em Gaza.

“O nosso país e o nosso lar é a Faixa de Gaza. É parte da Palestina”, afirmou Mansour em declarações à imprensa, acrescentando: “Acho que os líderes e o povo devem respeitar os desejos do povo palestiniano”.

Mesmo com a destruição registada no norte do enclave, “os palestinianos escolheram regressar para lá”, observou, referindo-se às centenas de milhares de pessoas que fizeram a viagem a pé do sul para o norte do enclave após o início do cessar-fogo entre Israel e o Hamas, no passado dia 19 de janeiro.

Na sequência das declarações de Trump, também o embaixador russo junto da ONU, Vasily Nebenzya, criticou a proposta do líder norte-americano, afirmando que esse cenário “seria uma verdadeira vergonha”.

“Acho que isso está fora de questão. Os palestinianos não querem isso. A comunidade internacional não quer isso. Não se pode reinstalar alguém à força (…). Os palestinianos sofreram tanta injustiça na sua existência que esta, além de todas as outras, seria uma verdadeira vergonha”, afirmou o diplomata russo a jornalistas na sede da ONU, em Nova Iorque.

 

MYMM // SCA

By Impala News / Lusa

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