Guiné-Bissau passou de golpes de Estado para golpes presidenciais — PM timorense

O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, considerou que a Guiné-Bissau passou de golpes de Estado para golpes presidenciais desde 2014, defendendo que a CPLP tem sido demasiado passiva e deve exigir “mudanças radicais” neste país.

Guiné-Bissau passou de golpes de Estado para golpes presidenciais -- PM timorense

Em entrevista à agência Lusa em Díli a propósito dos 25 anos do referendo que levou à independência de Timor-Leste, que se assinalam em 30 de agosto, o chefe do Governo timorense referiu que a situação que se verifica desde há uma década na Guiné-Bissau “é uma ameaça real à democracia”.

“Antes, de 1974 até 2014 eram golpes de Estado, agora são golpes presidenciais”, disse.

Questionado sobre se a Guiné-Bissau tem condições para assumir a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em 2025, Xanana Gusmão disse ter dúvidas, mas considerou que por outro lado a CPLP pode aproveitar essa oportunidade para exigir “mudanças radicais e sobretudo uma mudança na Constituição”.

O primeiro-ministro timorense considerou ainda que a CPLP “tem tido um papel demasiado passivo” em relação às sucessivas crises políticas na Guiné-Bissau.

“A CPLP tem sido, em termos de enviar alguma mensagem, nada, e isto, está-se a ver, é uma desgraça”, lamentou, referindo que a Guiné-Bissau foi, na altura das independências das antigas colónias portuguesas, “um símbolo de motivação” para Timor-Leste.

“Nem sabíamos onde ficava, se era muito grande ou muito pequena. [Mas pensámos], se eles conseguiram revoltar-se contra os portugueses, nós também conseguimos e isso dava-nos motivação”, referiu.

Timor-Leste tem apoiado financeiramente a Guiné-Bissau na realização de eleições e Xanana Gusmão recordou a primeira ajuda, em 2014, de cinco milhões de dólares, depois de uma visita que ele próprio fez ao país africano para se inteirar das reais necessidades, uma vez que o Governo guineense pediu na altura “19 milhões de dólares”.

“Quando a TAP não voava para lá por causa do incidente com os passageiros, todo o equipamento que comprámos em Portugal para as eleições tivemos de transportar para Espanha e alugar um avião para ir para a Guiné-Bissau”, explicou.

Em dezembro de 2013, 74 passageiros sírios com documentos falsos foram forçados em Bissau a viajarem para Lisboa num voo da TAP, o que levou a companhia aérea portuguesa a suspender os voos alegando questões de segurança, só retomando as ligações aéreas com o país lusófono em outubro de 2014.

Xanana Gusmão defendeu que uma das soluções para as crises políticas na Guiné-Bissau passa por alterações à Constituição e disse que foi essa a mensagem que passou ao Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, na visita que este fez a Timor-Leste, em novembro de 2023.

“Insisti na alteração da Constituição, em que o Presidente tem todo o poder, faz o que quer, tira o primeiro-ministro, mete outro, mas se o primeiro-ministro que ele coloca lá não obedece tira, isto é uma desgraça”, considerou.

Duas plataformas de partidos guineenses, que representam cerca de 95% dos deputados no parlamento, anunciaram em 12 de agosto em Lisboa a criação do Fórum para a Salvação da Democracia e que vão convocar “manifestações populares” contra o chefe de Estado guineense, que dissolveu o parlamento em 04 de dezembro de 2023, alegando uma grave crise política, e convocou eleições legislativas antecipadas para 24 de novembro deste ano.

*** Isabel Marisa Serafim (texto e vídeo), Vera Magarreiro (texto) e Paulo Novais (fotos), da agência Lusa *** 

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By Impala News / Lusa

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