Governo francês supera moção de censura da esquerda sem apoio dos socialistas
O Governo francês de François Bayrou superou hoje uma moção de censura, com os votos favoráveis de três partidos de esquerda da coligação Nova Frente Popular (NFP), sem o apoio do Partido Socialista (PS).
A moção registou 131 votos a favor, anunciou a presidente da Assembleia Nacional, Yäel Braun-Pivet, após a contagem dos votos, longe da maioria absoluta de 288 votos (dos 577 deputados) necessária para derrubar o Governo.
A União Nacional (RN, na sigla em francês, extrema-direita) de Marine Le Pen, também não apoiou a moção de censura, tal como tinha feito em dezembro passado para derrubar o anterior Governo de Michel Barnier, derrubado a 04 de dezembro, juntamente com os quatro partidos de esquerda.
Num contexto de instabilidade sem precedentes e ainda sem orçamento para este ano, os deputados da Assembleia Nacional — divididos em três blocos: aliança de esquerda, centro-direita e extrema-direita e sem maioria absoluta — rejeitaram assim a primeira moção de censura de Bayrou, 150.ª moção de censura à Quinta República, regime em vigor desde 1958.
A votação evidenciou uma fratura da esquerda, com os socialistas a distanciarem-se dos partidos da aliança de esquerda – oito dos 66 deputados do PS rejeitaram o apelo do seu partido e votaram a favor da moção. Esta divisão poderá ter um carácter temporário em função do desenrolar das negociações orçamentais deste ano e das discussões sobre uma eventual revisão da impopular reforma das pensões de 2023.
O primeiro-secretário do PS, Olivier Faure, justificou a posição com duas razões: por um lado, as concessões feitas pelo Governo nos contactos das últimas semanas, que beneficiaram os cidadãos com medidas concretas em matéria de fiscalidade, educação e saúde, assim como a reabertura da discussão sobre a impopular reforma das pensões, que desencadeou protestos em 2023, embora não seja garantido que haja mudanças.
“Optámos por não praticar a política do pior porque poderia levar ao pior, ao triunfo da extrema-direita”, disse Olivier Faure, justificando o receio de que uma nova crise governamental pudesse levar Marine Le Pen ao poder. O líder garantiu que os socialistas continuam na oposição e estão “abertos a compromissos”.
Por essa razão, primeiro-secretário socialista deixou claro que o seu partido poderia apoiar outra moção de censura “a qualquer momento”.
A posição socialista foi criticada pelos principais dirigentes da França Insubmissa (LFI, esquerda radical), que apresentou a moção, apoiada posteriormente pelos ecologistas e pelos comunistas.
Ao decidir não votar a favor da censura ao Governo, “o PS está a fraturar a NFP”, defendeu o líder do LFI, Jean-Luc Mélenchon, na rede social X, referindo que os socialistas estão sozinhos e os restantes grupos continuam a lutar.
O primeiro-ministro centrista acusou a esquerda radical de, com a sua moção, estar a apostar no “confronto” em vez de procurar o diálogo “na gravíssima situação do país”, quer devido à situação “gravíssima” da economia e das contas públicas, quer devido às difíceis perspetivas internacionais.
Segundo Bayrou, que foi nomeado em 13 de dezembro de 2024 pelo Presidente Emmanuel Macron, o LFI decidiu “escolher a guerra interna” para o país e de querer que “o confronto seja a lei”.
MYCO // JH
By Impala News / Lusa
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