Eurodeputada Isabel Santos lidera missão na Jordânia centrada no conflito

A eurodeputada portuguesa Isabel Santos lidera uma missão do Parlamento Europeu que iniciou hoje uma visita à Jordânia, tendo como pano de fundo a guerra na Faixa de Gaza e a necessidade de ajuda humanitária e de um cessar-fogo.

Eurodeputada Isabel Santos lidera missão na Jordânia centrada no conflito

A missão de sete eurodeputados participa, na quarta-feira, na 11.ª Reunião Interparlamentar União Europeia-Jordânia, e tem no programa vários encontros com dirigentes políticos jordanos e organizações a trabalhar no país, sendo já claro, segundo a eurodeputada socialista, que a visita será dominada pela guerra entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas.

Habitualmente, explicou, em declarações por telefone à Lusa a partir de Amã, Isabel Santos, que lidera a missão na qualidade de presidente da Delegação para as Relações com os Países do Maxerreque (países do mundo árabe oriental), as discussões com os representantes jordanos são dominadas pela situação no país e diálogo interparlamentar.

“Desta vez, tendo em conta os acontecimentos na região, o recente recrudescimento da crise no Médio Oriente, este tema está a ocupar a agenda, com os nossos interlocutores muito focados num cessar-fogo para proteger os civis na Faixa de Gaza e permitir a entrada de ajuda humanitária”, referiu.

Na Jordânia, Isabel Santos descreve uma preocupação constante com a situação no enclave palestiniano e no impacto do conflito no país, onde cerca de 70% da população tem origem palestiniana, e que “tem sido ao longo dos anos um garante de estabilidade, de segurança, de tolerância e dialogo inter-religioso” na região e está neste momento “a sofrer seriamente as consequências desta guerra, nomeadamente na sua atividade económica” e na grande aposta que fez no turismo.

A necessidade de um cessar-fogo face ao desastre humanitário no enclave palestiniano – que tem sido apontado pelas autoridades locais, organizações não-governamentais e pelas próprias Nações Unidos – reúne igualmente “consenso alargado” na delegação europeia, em linha com a posição que os Estados-membros assumiram na última Assembleia-Geral da ONU, realizada há uma semana, que resultou numa resolução não vinculativa, aprovada por uma esmagadora maioria, a pedir uma pausa nas hostilidades.

No território jordano, os eurodeputados visitaram hoje um campo de refugiados próximo de Amã gerido pela Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), onde testemunharam “necessidades crescentes” e recursos cada vez mais escassos.

“Estas pessoas estão a perder as suas famílias na Faixa de Gaza, e isso leva a um estado psicológico que se vai agravando”, contou Isabel Santos, indicando que tal situação leva a que, além de todo o apoio que já era prestado ao nível da educação, saúde e cuidados básicos, seja agora também necessário apoio nesta nova realidade, num quadro de falta de financiamento da UNRWA.

A implacável retaliação de Israel na Faixa de Gaza aos ataques conduzidos pelo movimento islamita palestiniano Hamas em 07 de outubro tem levado, de acordo com a deputada do Parlamento Europeu, a que seja evidente na Jordânia uma “animosidade muito presente” em relação ao Estado hebreu, acompanhado de desilusão com os parceiros ocidentais e de “uma certa descrença no quadro do direito internacional e do direito internacional humanitário”.

Ainda assim, a União Europeia (UE) “tem mantido um diálogo permanente com a Jordânia e com outros países da região face aos esforços do grupo de contacto árabe no sentido de se encontrar uma solução possível”, observou Isabel Santos, advertindo, no entanto, que, para isso, “é preciso que todos os intervenientes se sentem à mesa e cheguem a acordos e neste momento é difícil vislumbrar essa capacidade”.

Além da Reunião Interparlamentar UE-Jordânia, e até quinta-feira, a missão de eurodeputados tem no programa encontros com o ministro dos Assuntos Políticos e Parlamentares jordano, Haditha al Khraisheh, com o presidente do Senado, Faisal Al-Fayez, e com o presidente da Câmara dos Representantes, Ahmed Safadi.

Após um ataque sem precedentes do Hamas que causou cerca de 1.200 mortes e cerca de 240 sequestros em território israelita em 07 de outubro, o Exército de Telavive conduziu desde então uma poderosa ofensiva aérea, terrestre e marítima na Faixa de Gaza.

A operação militar já deixou mais de 19 mil mortos e acima de 51 mil feridos, a maioria dos quais mulheres, crianças e idosos, segundo números das autoridades locais de Gaza, controladas pelo grupo islamita palestiniano, bem como 1,9 milhões de deslocados, 85% da população total do enclave, de acordo com a ONU.

O Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, criticou na segunda-feira a “terrível falta de distinção” na operação militar israelita contra o Hamas na Faixa de Gaza, que causou a morte de “demasiados civis”, e insistiu numa pausa humanitária, um dia depois de as diplomacias de Londres, Paris e Berlim terem pedido um cessar-fogo duradouro.

O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Eli Cohen, reafirmou no domingo a posição de Telavive de que um cessar-fogo é um erro e uma “prenda para o Hamas”, afastando assim uma pausa das hostilidades.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas poderá votar ainda hoje uma nova resolução a exigir um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, por razões humanitárias.

Desde o início da guerra, os combates só foram interrompidos durante uma semana – entre 24 e 30 de novembro – numa trégua mediada pelo Qatar, Egito e Estados Unidos, que incluiu a libertação de 105 reféns detidos pelo Hamas em troca de 240 prisioneiros palestinianos e a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

Cerca de 130 reféns permanecem em cativeiro no enclave, onde a população deslocada sobrevive em tendas em pleno inverno e numa profunda crise humanitária, devido ao colapso dos hospitais, ao surto de epidemias e à escassez de água potável, alimentos, medicamentos, eletricidade e combustível.

HB // SCA

By Impala News / Lusa

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