Antigos chefes militares alertam para “situação insustentável” nas Forças Armadas

O Grupo de Reflexão Estratégica Independente (GREI), que reúne vários antigos chefes militares, enviou uma carta ao Presidente da República e partidos a alertar para uma “situação insustentável” nas Forças Armadas, pedindo que olhem “com dignidade” para os militares.

Antigos chefes militares alertam para

Na missiva, intitulada título “a insustentável situação dos militares das Forças Armadas”, que foi hoje avançada pelo Diário de Notícias e à qual a Lusa teve acesso, estes antigos chefes militares consideram “inegável que tem vindo a crescer no seio das Forças Armadas um clima geral de mal-estar e desmotivação, de insatisfação, de saturação e de injustiça relativa que tem levado um número crescente de militares dos Quadros Permanentes (QP) e dos Regimes de Voluntariado (RV) e de Contrato (RC) a abandonar precocemente as fileiras”.

De acordo com o GREI, em 31 de dezembro de 2023, o número de militares em serviço era de 21.080, o que representa “cerca de 68% relativamente aos 30.840 autorizados pelo D.L. 6/2022, de 07 de janeiro, quantitativos esses bastante reduzidos, se se considerar o valor superior do intervalo (30 000 — 32 000) previstos na Reforma ‘Defesa 2020’, de 2013, e cujo estudo e racional que os sustentaram são desconhecidos”.

“É, sem dúvida – a falta de pessoal — o maior dos problemas. Um problema da mais alta importância e a que os portugueses em geral, os cidadãos, os partidos e os políticos, em particular, não se podem alhear”, avisam, numa carta que foi também enviada aos atuais chefes militares.

Para o GREI, “é patente e claro que o poder político, e os políticos em termos mais genéricos, têm discriminado negativamente os militares, por razões que não se compreendem”, apontando que “o argumento presente em todas as suas decisões é a necessidade de aplicar aos militares a Lei Geral em tudo o que for redução dos direitos, esquecendo que a própria Lei determina que estes devem ser geridos de forma diferente da dos outros cidadãos, e no sentido positivo”.

Na missiva, assinada pelo almirante Melo Gomes, antigo chefe militar da Armada, pelo general Pinto Ramalho, que chefiou o Exército, e pelo general Taveira Martins, que esteve à frente da chefia da Força Aérea, lê-se que “até parece que o objetivo prosseguido é depauperar as Forças Armadas dos seus recursos humanos, deixá-las esgotarem-se e, assim, exauridas, chegarem à extinção”.

“Não acreditamos que seja este o desiderato em vista, acreditamos mais que seja antes uma falta de cultura de Defesa Nacional que trespassa transversalmente a sociedade portuguesa, e a que os Políticos (e os partidos) não têm querido ou sabido, até, pedagogicamente que fosse responder”, lê-se.

Os membros do GREI lembram que este ano celebra-se o cinquentenário do 25 de Abril de 1974 considerando que é um “excelente pretexto, ou melhor, excelente oportunidade para, em complemento dos discursos de circunstância, olhar para as Forças Armadas com a dignidade, a importância e o espaço próprio, que lhes é devido na sociedade portuguesa”.

“Se não for esta a postura, então que mostrem coragem, assumam a responsabilidade por inteiro, e perguntem aos portugueses se desejam que Portugal tenha, ou não, Forças Armadas. Continuar assim como se tudo estivesse bem é que não pode ser”, avisam.

Em nove páginas, assinala-se que a condição militar exige um conjunto de obrigações mas também tem inerentes direitos, considerando que atualmente estes últimos “foram sendo progressivamente eliminados, e/ou deturpados pelos sucessivos governos, uns por ação, ao terem aprovado as medidas restritivas aos direitos dos militares, outros por omissão, ao não terem a sensibilidade necessária para os corrigir e reverter, como seria justo e conforme ao espírito e letra da própria lei”.

Os membros do GREI alertam para “dificuldades na progressão de carreira”, uma “degradação do Sistema de Saúde Militar” e deixam notas sobre o regime remuneratório.

“Neste âmbito, pode dizer-se que a vontade política dos Governos, limitando e colocando, até, em causa o cumprimento, ao mais alto nível, do dever de tutela, tem conduzido a uma situação que consideramos inadmissível, e que importa reverter tão breve quanto possível e antes que seja demasiado tarde e de consequências ainda mais gravosas para a Defesa Nacional (e sinais disso mesmo, convenhamos, já vão surgindo)”, lê-se na carta.

 

ARL // SF

By Impala News / Lusa

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