Estudo inédito pode prevenir o stress pós traumático nos bombeiros
O estudo desenvolvido a partir da Universidade de Coimbra pode, também, ajudar os bombeiros na tomada de decisão crítica em condições extremas de combate a incêndios.
O estudo desenvolvido a partir da Universidade de Coimbra pode prevenir o stress pós traumático nos bombeiros, bem como melhorar a tomada de decisão crítica em condições extremas de combate a incêndios. Miguel Castelo-Branco – responsável por um estudo que avalia o impacto da atividade dos bombeiros na sua saúde mental – acredita que, seja num fogo urbano ou florestal, os bombeiros estão sujeitos a um stress pós traumático semelhante ao de uma guerra.
“Quando falamos em stress pós traumático é a exposição à adversidade, a situações em que eles têm que tomar decisões extremas, e verificámos que cumulativamente estão expostos a eventos potencialmente traumáticos. Estamos a falar de crianças em perigo, de colegas em perigo, é uma população vulnerável porque a grande maioria tem uma exposição maciça a estes eventos. A vulnerabilidade ao stress é muito grande”, afirmou ao Diário de Notícias, após um webinar que reuniu bombeiros, famílias e parte da equipa com quem desenvolveu o estudo.
83% dos bombeiros já esteve exposto a mais de 20 situações potencialmente traumáticas
A parte mais científica do estudo começou há um ano, mas há uma parte clínica que já vem de trás, a cargo do psiquiatra João Redondo. A amostra, nesta primeira fase, foi constituída por 283 participantes, na sua maioria bombeiros da região de Coimbra. Entre as conclusões, percebeu-se que a maioria (83%) “já foi exposta a mais de 20 acontecimentos traumáticos”. “A exposição continuada a este tipo de situações poderá vir a colocar em causa os seus mecanismos de funcionamento normais e condicionar a emergência de problemas ao nível da saúde mental”, indica o estudo.
Miguel Castelo-Branco – docente da Faculdade de Medicina da UC e investigador do Coimbra Institute for Biomedical Imaging and Translational Research (CIBIT) – refere que pessoas com outras profissões, “presenciam acontecimentos-limite uma ou duas vezes”, ao contrário dos bombeiros. O investigador revela que, depois de tornados públicos os primeiros resultados, “muitos bombeiros já entraram em contacto connosco, agradecendo a sensibilização para este problema”.
“Uma pessoa que tem um stress pós traumático decide pior”
“Acredito que é possível criarmos um circuito de acompanhamento de bombeiros, que podem contactar connosco e nós sinalizamos e encaminhamos. Por outro lado, temos para lhes dar ferramentas de treino para a tomada de decisão”, adianta Miguel Castelo-Branco ao DN. “Imagine o que é um bombeiro, perante uma casa em chamas, com pessoas lá dentro, em frações de segundo tem de calcular a probabilidade da casa ruir, salvar as pessoas, é tudo muito rápido. É sabido, até ao nível neuro-científico, que uma pessoa que tem um stress pós traumático decide pior”, afirma.
O objetivo do estudo e da equipa de investigadores é atuar, precisamente, na prevenção, evitando o ciclo vicioso, recorrendo, por exemplo, ao acompanhamento psicológico e a exercícios de realidade virtual para treino, “para eles perceberem que nessas frações de segundo há um diálogo entre a razão e a emoção. É o que chamamos vulgarmente “manter a cabeça fria”, conclui o investigador.
Depois da amostra concentrada na região de Coimbra, o objetivo é abrir este estudo a todo o país. Para tal que os bombeiros interessados entrem em contacto com o DECFIRE (o nome atribuído ao estudo) através do e-mail [email protected].
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