Um em quatro alunos até ao secundário tem menos de 20 livros em casa

Cerca de um em cada quatro alunos portugueses dos ensinos básico e secundário tem menos de 20 livros em casa, de acordo com um estudo do Observatório Português das Atividades Culturais para o Plano Nacional de Leitura.

Um em quatro alunos até ao secundário tem menos de 20 livros em casa

O estudo “Práticas de leitura dos alunos dos ensinos básico e secundário — Barómetro’23” incidiu sobre uma amostra de mais de 31 mil alunos e foi feito em parceria com a Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência e a Rede de Bibliotecas Escolares, contando com a Associação de Restaurantes McDonald’s como mecenas.

Embora a média de livros em casa se situe entre os 112 e os 129, variando consoante o nível de ensino, e apesar de haver cerca de 6% de alunos em cada ciclo que têm mais de 500, há mais de 20% em todos os ciclos com menos de 20 livros.

“Em termos gerais, isto significa que um em cada quatro alunos tem menos de 20 livros em casa, constatação que deverá ser objeto de consideração por parte das políticas públicas”, pode ler-se no estudo coordenado por João Trocado da Mata e José Soares Neves.

Nos quatro ciclos de ensino analisados, a maior fatia de inquiridos encaixa-se dentro de quem tem entre 20 e 100 livros em casa (quase metade no 1.º ciclo, 38,2% no secundário), com perto de um terço a responder que tem mais de 100 livros em casa, havendo uma variação entre os 28,8% no 1.º ciclo e os 34% no secundário.

Os autores do estudo sublinham que o número de livros em casa do aluno tende a subir “à medida que cresce a dimensão da biblioteca familiar, sobe o nível de escolaridade dos pais e se intensifica a relação da família com a leitura”.

“Os resultados evidenciam que a escolaridade dos pais está mais fortemente associada ao número de livros do aluno do que a relação da família com a leitura, reforçando a importância do capital escolar (e sua ligação ao capital económico) nos processos de decisão das famílias sobre a aquisição de livros”, acrescentam os autores.

A percentagem de alunos que diz possuir os seus próprios livros em casa ultrapassa os 90% em todos os escalões de ensino, com uma diminuição gradual à medida que o nível sobe, ou seja, no 1.º ciclo 97% dos alunos dizem ter livros em casa, praticamente a mesma do 2.º ciclo, descendo para 93,5% no 3.º ciclo e para 90,3% no secundário.

Também o gosto pela leitura cai à medida que avança o ensino: de acordo com o estudo, os alunos portugueses passam de 73,3% que dizem gostar de ler no 1.º ciclo para 35,4% no secundário.

“O gosto pela leitura encontra[-se] associado ao número de livros em casa, à relação da família com a leitura e à escolaridade dos pais. Quanto maior é o capital possuído, maior é o gosto pela leitura”, escrevem os autores do estudo.

Por género, são as raparigas quem tem mais livros em casa, em todos os níveis de ensino.

“Importa destacar que os valores mais baixos registados em cada ciclo de ensino correspondem aos alunos mais velhos, aqueles que se encontram fora da idade esperada de frequência, o que parece indiciar a presença de uma associação entre o insucesso escolar e a relação com a leitura. Os percursos escolares marcados pela repetência apresentam uma relação mais distante com a posse de livros e as práticas de leitura”, pode ler-se no estudo.

O objetivo do estudo era proceder “à construção de um sistema de recolha regular de informação sobre a evolução das práticas de leitura dos alunos do ensino não superior, respondendo a uma necessidade há muito diagnosticada pelas principais entidades com responsabilidades na promoção da leitura em Portugal”.

TDI // MAG

By Impala News / Lusa

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