Setor energético confiante que Portugal está na rota certa para a neutralidade carbónica
Dos produtores de renováveis às empresas de combustíveis, todos no setor energético estão confiantes no caminho que está a ser feito para a neutralidade carbónica, trajeto que vai contar com o hidrogénio verde, apesar do atraso no arranque da produção.

“Vamos cumprir as metas do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) de certeza absoluta”, disse à Lusa o presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), Pedro Amaral Jorge, em entrevista no âmbito do Dia Mundial da Energia, que se celebra hoje.
No ano passado, o Governo reforçou as metas propondo uma quota de energias renováveis no consumo final bruto de energia para 51%. Em 2023, de acordo com os últimos dados disponíveis, pesou 35,2%.
Apesar da atual conjuntura marcada pela guerra de tarifas e da instabilidade geopolítica, Pedro Amaral Jorge está otimista que não haverá uma inversão na tendência do reforço das renováveis. Mas admite que há ainda alguns obstáculos pela frente para permitir acelerar investimentos, como a demora dos licenciamentos e a modernização das redes.
No que toca à incorporação de renováveis, o setor acredita que o hidrogénio verde e os biocombustíveis podem vir a ter um papel relevante.
Portugal tem vindo a apostar no hidrogénio verde como vetor estratégico para a descarbonização da economia, com projetos-piloto que visam aumentar a produção e utilização deste combustível limpo já na segunda metade da década, alinhando-se com a meta da neutralidade carbónica até 2045.
“Como todos os combustíveis de origem não biológica renovável, o arranque [da produção desta tecnologia] está a ser muito mais lento do que eram as primeiras estimativas da Comissão Europeia”, apontou o presidente da APREN.
Porém, garante que a indicação que foi feita recentemente por Bruxelas “é que não vai mover as suas metas nem um milímetro, ou seja, a incorporação de combustíveis sintéticos na aviação, no transporte marítimo e noutras aplicações vai avançar. Isto significa que o hidrogénio verde pode ter tido aqui um atraso de 4 ou 5 anos, mas do ponto de vista do futuro, a Comissão Europeia continua a determinar que a sua utilização é absolutamente incontornável”, assegurou.
E neste campo, Portugal tem várias vantagens competitivas como a forte capacidade instalada de energia renovável, elevada radiação solar e uma rede de gás eficiente e adaptável.
Para o secretário-geral da Associação das Empresas Portuguesas de Combustíveis e Lubrificantes (EPCOL), “sendo a eletrificação uma realidade incontornável, e com um papel crescente, não deve ser uma solução única”.
Nesse sentido, António Comprido defende que “a utilização de combustíveis de baixo carbono, biocombustíveis e combustíveis sintéticos, facilitará o cumprimento das metas de redução de emissões de CO2”.
Referindo-se ao apagão de 28 de abril, lembrou ainda que quanto mais diversas forem as fontes energéticas, quer no tipo quer na origem, maior é a segurança do abastecimento, incluindo o gás natural.
“Numa situação como a que vivemos, não podemos ficar todos reféns de uma única solução”, reforçou. “O futuro, na opinião de muitos especialistas, que eu partilho, passará por um cabaz energético muito mais diversificado, com as fontes fósseis a continuarem a suprir uma parte significativa das necessidades energéticas globais, embora com uma contribuição tendencialmente decrescente”, acrescentou.
Em 2024, a produção não renovável em Portugal foi praticamente toda assegurada por gás natural, que representou apenas 10% do consumo.
No aprovisionamento, quase toda a energia foi fornecida pelo terminal de GNL de Sines, enquanto as entradas pela interligação com Espanha foram residuais. O gás natural descarregado em Sines provém principalmente da Nigéria (53%) e dos EUA (41%).
Relativamente às reservas de gás, são feitas no complexo subterrâneo do Carriço, no concelho de Pombal, que utiliza seis cavernas naturais formadas em salinas a mais de mil metros de profundidade.
Em resposta à crise energética agravada pela guerra na Ucrânia, Portugal está a investir na construção de duas novas cavernas no mesmo complexo, com previsão de entrada em operação em 2027 e 2028.
SCR // EA
By Impala News / Lusa
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