Seca afeta resiliência da floresta e expõe perigo do ponto de não retorno na Amazónia

A seca que afeta a Amazónia brasileira reduz a resiliência ambiental e ilustra os perigos que o bioma corre se atingir o ponto de não retorno identificado por cientistas, que projetam o risco desta floresta se tornar um deserto.

Seca afeta resiliência da floresta e expõe perigo do ponto de não retorno na Amazónia

Dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB) apontam que estados brasileiros como o Acre, o Amapá, o Amazonas e o Pará, localizados na região amazónica, tiveram este ano os menores índices de chuva entre os meses de julho e setembro desde 1980.

Segundo Pedro Luiz Cortês, professor do Instituto de Energia e Meio Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), a seca reduz bastante a capacidade de resiliência da Amazónia porque a floresta vem sendo agredida em várias áreas, elevando os alertas que os cientistas têm reiterado sobre um processo de desertificação no bioma.

“Essa situação da seca extrema acaba reduzindo a capacidade da floresta se recuperar mais rapidamente. É importante lembrar que a Amazónia é uma floresta tropical húmida e o que está faltando hoje é a água”, explicou Cortêz.

“Então, os impactos vão sendo sentidos na fauna e em vários pontos da flora, e isso reduz a capacidade de recuperação rápida da floresta”, acrescentou.

Ambientalistas e cientistas apontam que a falta de chuvas na Amazónia brasileira é consequência da convergência do el Niño com um aquecimento atípico no norte do Oceano Atlântico e os efeitos cumulativos do desflorestamento no bioma.

Segundo o investigador da USP, o desflorestamento crescente na Amazónia brasileira registado nos últimos anos juntamente com mudanças climáticas são fatores que precisam ser considerados, porque, se bem que os estudos não são conclusivos, já há o temor de que o chamado ponto de não retorno na Amazónia, que acontecerá quando a floresta perder a sua capacidade de recuperação e autorregeneração, está próximo. 

O ponto de não retorno da Amazónia seria algo entre 20% e 25% de destruição do bioma. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), instituição governamental que faz monitorização por satélite da Amazónia brasileira, cerca de 729 mil quilómetros quadrados da floresta já foram devastados no país, o que corresponde a 17% da área do referido bioma.

O professor da USP também alertou que a desflorestação não provocou danos capazes de configurar esse ponto de não retorno em todo o vasto território ocupado pela floresta Amazónica no Brasil (59% área do país está na chamada Amazónia legal), mas em algumas regiões esse limite já foi superado.

“Quando nós temos um desflorestamento que ronda esse ponto de equilíbrio e nós temos uma seca muito intensa, a capacidade das florestas de recuperar acaba ficando seriamente prejudicada. Então nós temos no futuro dois cenários. A floresta pode demorar muito a se recuperar dessa seca e dos efeitos das mudanças climáticas ou ela pode ter alguns pontos em que já não consiga mais se recuperar”, frisou.

“É claro que quando as chuvas voltarem, a gente pode ter a impressão de que a mata está voltando ao normal, mas isso pode ser uma impressão falsa, porque na verdade nós temos não só as grandes árvores, mas também nós temos toda o restante da cobertura vegetal de menor porte”, concluiu.

 

CYR // MLL

By Impala News / Lusa

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