João Paulo II recusou beijar solo em Díli por entender Timor-Leste como sua casa

O ex-jornalista Mário Robalo realçou hoje que o papa João Paulo II, quando visitou Timor-Leste, em 1989, recusou beijar o solo por entender a diocese do Vaticano como sua casa.

João Paulo II recusou beijar solo em Díli por entender Timor-Leste como sua casa

Na sua opinião, incluindo com este gesto do papa, a Igreja Católica “teve um peso muito grande ao nível da discussão e solução internacional” para a autodeterminação da antiga colónia portuguesa.

Em entrevista à Lusa, Mário Robalo comentou a visita de João Paulo II a Timor-Leste, quando o líder político e religioso optou por não beijar o solo à chegada a Díli.

“Era uma diocese do Vaticano, sua casa”, da qual ele próprio era bispo, sendo representado localmente pelo administrador apostólico Ximenes Belo.

“Foi interpretado como ter admitido que Timor-Leste já era parte integrante da Indonésia, mas foi absolutamente ao contrário. João Paulo II não ia beijar solo do Vaticano”, explicou.

O papa “foi muito explícito”, querendo deixar claro que, no caso, não iria “reverenciar a casa dos outros”, como fizera antes em Jacarta, disse, alegando que “esta leitura ainda hoje está por fazer”.

“O primeiro telefone satélite móvel que Xanana Gusmão teve foi levado por D. Ximenes Belo através da mala diplomática do Vaticano”, que as autoridades indonésias “não podiam abrir”, salientou.

Há 34 anos, durante uma visita ao território, articulada com o futuro bispo e com a resistência, e sempre vigiada de perto pelas forças indonésias, Mário Robalo deslocou-se sobretudo em táxis que pertenciam a membros da rede clandestina que combatia a ocupação.

“A grande sabedoria do Xanana foi integrar a resistência entre as massas e não apenas através das armas”, enalteceu.

A detenção do antigo jornalista do Expresso na capital timorense, durante alguns dias, aconteceu porque um membro da organização independentista se prestou ao papel de “agente duplo” e avisou os militares indonésios sobre a entrevista a Xanana efetuada pelo jornalista português.

O homem foi executado.

Mário Robalo esteve depois mais três vezes na antiga colónia. Na primeira oportunidade, “por uma questão de ética”, visitou a família do timorense condenado por traição.

Mário Robalo falou à Lusa a propósito do texto “Timor Leste: uma árdua luta pela liberdade”, que escreveu para a última edição da revista “Ipsis Verbis”, comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, com coordenação de Luís Filipe Torgal e Basílio Torres, lançada pelo Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital, na semana passada.

*** Casimiro Simões, da agência Lusa ***

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By Impala News / Lusa

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