Intimidade em 36 artistas e minimalismo dominam novas exposições no museu do CCB
A expressão pública da intimidade a partir da obra de Nan Goldin, em diálogo com outros 35 artistas, e o minimalismo radical de Fred Sandback dominam as duas novas exposições do museu do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
“Intimidades em fuga. Em torno de Nan Goldin” e “Fred Sandback. Alinhavando o espaço” dão título às duas exposições a inaugurar na quarta-feira no Museu de Arte Contemporânea/Centro Cultural de Belém (MAC/CCB), completando o arranque da nova temporada do espaço que completa um ano no próximo fim de semana.
Contando com a fotógrafa norte-americana Nan Goldin, são 36 os artistas representados na exposição com curadoria de Nuria Enguita, diretora do museu, numa seleção de obras das coleções em depósito, sobretudo da Coleção Ellipse, que detém as 126 fotografias aqui exibidas da série da fotógrafa norte-americana intitulada “The Ballad of Sexual Dependency”.
Esta série é um registo autobiográfico da cena artística e musical de Nova Iorque dos anos 1970 e início dos anos 1980, narrando a luta pela intimidade e compreensão entre amigos, família e amantes descritos coletivamente por Goldin como a sua “tribo” naquela época.
“Porquê Nan Goldin? Porque este trabalho não fala só da sua vida, mas da forma como sente a sua vida, e como a comunica através do seu olhar, numa expressão pública da intimidade”, justificou hoje a curadora Nuria Enguita durante uma visita às exposições para os jornalistas.
A série de fotografias está disposta como um fio condutor pela exposição, em diálogo com outras obras em vídeo, fotografia, pintura, desenho, objetos e instalações de outros 35 artistas portugueses e estrangeiros, entre eles Paula Rego, Helena Almeida, Marina Abramovic, João Onofre, Félix González-Torres, Filipa César, Gabriel Orozco, Louise Bourgeois, Wolfgang Tillmans ou Hans Bellmer.
A intimidade está no centro da mostra, mas Nuria Enguita ressalvou que não gosta de fazer exposições temáticas, em vez disso prefere, através do trabalho dos artistas, “levantar questões para reflexão”, nomeadamente sobre o que é hoje a privacidade, a individualização do ser humano ao longo da História, ou o uso das tecnologias para banalizar a vida pessoal.
“A intimidade é uma forma única de cada um viver a vida e senti-la”, sublinhou a curadora, que selecionou ainda obras da Coleção Berardo, da Coleção de Arte Contemporânea do Estado (CACE), da Coleção Teixeira de Freitas e algumas cedidas pela Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, da série “Pendle Witches” (1996).
Nesta exposição, a intimidade “é entendida como a ação do corpo sobre o corpo, no espaço e no tempo, nos gestos e na linguagem, nos afetos, nas emoções e na memória”, apontou ainda sobre a obra de Nan Goldin, que em 2002 apresentou uma retrospetiva com cerca de 400 fotografias no Museu de Serralves, no Porto.
Cindy Sherman, Bruno Pacheco, Chantal Joffe, Victor Brauner, André Breton, Mike Kelley, Lorna Simpson, Yves Klein, Paul Delvaux, Zoe Leonard, João Tabarra, Rineke Dijkstra, Sharon Lockhart Óscar Domínguez, Adriana Varejão, Ana Mendieta e Júlia Ventura são outros dos artistas representados nesta exposição que ficará patente no MAC/CCB até 31 de agosto de 2025.
O museu também inaugura na quarta-feira a primeira exposição em Portugal do artista norte-americano Fred Sandback (1943-2003), com 16 obras, cinco delas inéditas, segundo a curadora brasileira Lilian Tone, presente na visita.
“Uma exposição desta escala e dimensão só foi feita na Europa há mais de vinte anos”, comentou a curadora independente que trabalhou durante várias décadas no departamento de pintura e escultura do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.
“Fred Sandback: Alinhavando o espaço” explora a extensão da produção artística deste artista que, ao longo de mais de 35 anos, criou uma obra baseada na economia e na quietude através da utilização de materiais tradicionalmente associados ao universo doméstico e ao feminino.
Depois de estudar Filosofia e de fazer um mestrado em escultura, Sandback foi convidado a expor os seus trabalhos de linhas simples em galerias na Alemanha e nos Estados Unidos, conquistando reconhecimento ainda muito jovem.
O artista foi influenciado pelos trabalhos de vários seus contemporâneos pós-minimalistas, mas acabou por radicalizar esse minimalismo, “frustrado com as noções de massa da escultura” segundo a curadora.
Fred Sandback reduziu a obra a linhas que, no entanto, “acabam por integrar o espaço que as rodeia, e não apenas aquele que essas linhas limitam”, acrescentou Lilian Tone.
Além de integrar esculturas de pequenas e grandes dimensões, a mostra – que ficará patente até março de 2025 – aborda aspetos menos conhecidos do legado do artista, como os seus desenhos, gravuras, relevos em madeira e construções conceptuais.
AG // TDI
By Impala News / Lusa
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