Ferramentas do chimpanzé tornam-se mais sofisticadas através de interações
Durante milénios, os chimpanzés desenvolveram continuadamente as suas capacidades de utilização de ferramentas graças às interações entre diferentes populações destes primatas, de acordo com um estudo publicado na quinta-feira na revista Science.
Esta descoberta, sobre primatas mais próximos dos humanos, é de grande interesse para a espécie humana, porque apoia a ideia de que, desde tempos imemoriais, os antepassados do homem moderno usou as suas ligações sociais para melhorar as suas técnicas, explicou à agência France-Presse (AFP) a principal autora do estudo, Cassandra Gunasekaram.
Os cientistas há muito que se maravilham com a capacidade dos chimpanzés de transmitir comportamentos e processos complexos de uma geração para a seguinte, como o uso de ferramentas.
No entanto, embora a civilização humana tenha saltado da Idade da Pedra para a era espacial, a “cultura” do chimpanzé comum, definida como atitudes socialmente inculcadas, parece ter permanecido estagnada.
Cassandra Gunasekaram, estudante de doutoramento na Universidade de Zurique, na Suíça, começou a sua investigação a pretender desafiar esta suposição.
A equipa de investigação reuniu dados genéticos rastreando as migrações antigas destes primatas por toda a África através de observações dos métodos de recolha e caça de insetos entre dezenas de grupos de chimpanzés, estando todas as quatro subespécies representadas.
Estes métodos e atitudes foram categorizados em três níveis: aqueles que não requerem ferramentas, aqueles que requerem ferramentas simples (tais como folhas de árvores mastigadas que servem como esponjas para absorver a água que escorre das árvores) e aqueles que requerem mais ferramentas.
Um exemplo notável desta gama de ferramentas vem do Congo, onde os chimpanzés usam varas resistentes para escavar um túnel para chegar a um ninho de térmitas. Mastigam então o caule de uma planta para o transformar em pincel e assim recolher as térmitas no túnel que eles próprios fizeram.
O estudo publicado na quinta-feira na Science mostra que a utilização de ferramentas sofisticadas está fortemente correlacionada com as trocas genéticas entre diferentes populações de chimpanzés nos últimos 5 a 15 milénios.
Os chimpanzés que vivem em regiões onde estão presentes três subespécies mostraram a maior propensão para utilizar as ferramentas mais sofisticadas, destacando que as ligações entre diferentes grupos promovem o desenvolvimento do conhecimento.
Em contraste, comportamentos menos sofisticados, como a procura de alimentos sem ferramentas, parecem menos ligados às migrações e provavelmente evoluíram de forma independente em diferentes regiões.
Para Cassandra Gunasekaram, este paradigma reflete a evolução da espécie humana e como a troca de ideias e a inovação incremental levou desde os primeiros ábacos aos smartphones modernos.
As ferramentas dos humanos “tornaram-se tão complexas que uma única pessoa não conseguiria reinventá-las sozinha”, sublinhou a investigadora.
Mas, ao contrário dos seus primos humanos, os chimpanzés tiveram muito menos oportunidades de trocar novas ideias com outros grupos: as migrações ocorrem gradualmente, impulsionadas pelas fêmeas em idade reprodutiva que se deslocam para novos grupos para evitar a consanguinidade.
À pergunta sobre se algum dia os chimpanzés irão rivalizar com o engenho humano, Cassandra Gunasekaram dá como exemplo que algumas populações de chimpanzés fizeram progressos consideráveis na quebra de cascas de nozes com martelos rudimentares e pedras como bigornas.
Certamente que não atingirão a sofisticação dos humanos, mas, com o tempo, poderão tornar-se caçadores-recolectores mais eficientes, sublinhou.
DMC // RBF
By Impala News / Lusa
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