Professores exaustos e crianças do 1.º ciclo com demasiado tempo de aulas

Os professores do primeiro ciclo têm uma carga letiva muito superior à dos colegas, num modelo de ensino que prejudica também as crianças que passam demasiado tempo fechados na sala de aula, alertou hoje a Fenprof.

Professores exaustos e crianças do 1.º ciclo com demasiado tempo de aulas

Os professores do primeiro ciclo estão cada vez mais velhos – apenas 5% têm menos de 40 anos – e “sentem-se exaustos” com o trabalho em sala de aula mas, principalmente, com as tarefas burocráticas, revela um inquérito divulgado hoje pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof), ao qual responderam mais de dois mil docentes de todo país.

Numa altura em que a grande maioria dos alunos já guardou as mochilas e entrou de férias, as crianças do pré-escolar e do primeiro ciclo têm mais 15 dias de aulas.

“Os professores do primeiro ciclo são os únicos que continuam a dar aulas até ao final do mês”, lamentou Cátia Domingues, coordenadora nacional do primeiro ciclo da Fenprof, durante a apresentação do inquérito realizado entre o final de 2023 e o início deste ano.

A classe está envelhecida e diz-se “exausta com a sobrecarrega de trabalho”, sublinhou a sindicalista, defendendo um calendário escolar semelhante para todos os níveis de ensino.

O atual calendário “não tem qualquer justificação pedagógica ou científica, apenas sobrecarrega professores e alunos”, salientou José Feliciano Costa, secretário-geral adjunto da Fenprof, considerando que o atual modelo “é um expediente para resolver um problema de resposta social e de resposta às famílias”.

Há já “turmas do primeiro ciclo com apenas metade dos alunos em sala de aula”, porque os irmãos mais velhos acabaram o ano e foram todos de férias, acrescentou a sindicalista Catarina Oliveira.

Para a professora do primeiro ciclo, esta realidade mostra como a escola parece ter-se transformado numa espécie de “serviço de baby-sitting”, ignorando os estudos que apontam para o impacto negativo na motricidade e socialização das crianças que permanecem demasiado tempo sentadas numa aula.

“Com o projeto ‘Escola a tempo inteiro’ e o prolongamento do tempo letivo, mantiveram as crianças dentro das salas, que é tudo aquilo que elas não precisam”, alertou, sublinhando que Portugal se destaca pela negativa nesta matéria quando comparado com a média de horas nos países europeus.

Além de muitos dias de aulas, são muitos os casos de crianças que chegam à escola antes das oito da manhã e só regressam a casa ao final do dia, “tendo um dia de trabalho superior ao dos pais”, alertou Catarina Oliveira.

Para a Fenprof, é preciso reduzir os dias de aulas no primeiro ciclo e, em alternativa, oferecer às famílias uma resposta social, que pode acontecer dentro do espaço escola, mas num regime de tempos livres.

Muitos professores (30%) consideraram que as próprias Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) perderam o seu caráter mais lúdico, sendo agora mais umas horas de aulas.

A revisão do programa ‘Escola a tempo inteiro’ e das AEC são algumas das reivindicações da Fenprof, que pede também uma revisão do regime de aposentação e uma redução de alunos por turma, adiantou Cátia Domingues.

“A carga letiva é superior à dos restantes colegas e é um único professor para fazer todas as tarefas burocráticas”, disse José Feliciano Costa, indicando que em média trabalham 50 horas semanais.

Os professores têm uma carta reivindicativa antiga que dizem não ter sido acolhida pelos sucessivos ministérios da educação. Esta semana, o secretariado nacional da Fenprof vai reunir-se para analisar o documento hoje apresentado e “decidir o que fazer ainda este ano”, acrescentou.

Os docentes do primeiro ciclo estão mais velhos e trabalham demasiadas horas, segundo o estudo da Fenprof, que revela que muitos dão aulas em edifícios degradados, com falta de equipamentos e turmas demasiado grandes.

É habitual terem turmas com mais alunos do que o previsto na lei e muitos queixam-se de ter ainda de ficar a vigiar as crianças durante os intervalos (41%), segundo o inquérito.

Quase metade dos edifícios (40,6%) necessita de obras e 70% não tem equipamentos suficientes. As maiores falhas são ao nível da rede de internet, dos computadores e dos espaços desportivos.

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