“Duas peças em Estado Novo” sobre ditadura e desejo de liberdade no Museu do Aljube
“Duas peças em Estado Novo”, projeto que reúne os textos “Uma reputação” e “Partida ou a mulher sem medo”, sobre ditadura e desejo de liberdade, vai estar em cena nos próximos dias 18 a 20, no Museu do Aljube, em Lisboa.
“Uma reputação”, com texto da dramaturga britânica Susannah Finzi, e “Partida ou a mulher sem medo”, da autoria de Armando Nascimento Rosa, são obras que “exploram e desconstroem, através de diferentes vozes, os variados mecanismos em ação numa sociedade regida pela ditadura mas na qual germina o anseio pelo implemento da democracia”, afirmam os autores dos textos.
A ação de “Uma reputação” gira à volta de Salazar, quando o presidente do governo da ditadura convocou um padre, seu confessor, para uma refeição em sua casa, para que este lhe resolvesse um problema depois de ter recebido de presente uma pintura peculiar de outro ditador europeu.
Uma situação “altamente irónica”, na qual intervém ainda a empregada Teresa, permitindo “obter um retrato cénico da atmosfera mental da época, com o opressor no reduto doméstico”, acrescenta a apresentação da peça.
“Partida ou a mulher sem medo”, do professor e dramaturgo Armando Nascimento Rosa, põe em palco um reencontro entre a secretária de Humberto Delgado, Arajaryr Campos, e da sua filha, Rosângela, agora adulta.
Humberto Delgado e Arajaryr Campos, secretária e companheira do general no exílio, morreram assassinados numa emboscada da PIDE, em 13 de fevereiro de 1965. Os corpos de ambos foram encontrados dois meses depois, em abril, em Vila Nueva del Fresco, junto a um caminho conhecido por Los Malos Passos, perto da fronteira com Portugal.
Quando Arajaryr Campos morreu, Rosângela era uma criança, pelo que, nesta peça, Armando Nascimento Rosa coloca as duas a dialogarem, mostrando Arajaryr como uma mulher corajosa que se chamava a si própria “uma brasileira contra Salazar”, título que deu ao livro de memórias que deixou.
Com direção de Clara Ploux e Telmo Ferreira, a interpretar “Duas peças em Estado Novo” vão estar Adérito Lopes, Carlos Catalão, Clara Passarinho, Fábio Nóbrega Vaz, Giulia Ester Silva, Nicolle Sá e Paulo Lajes, todos alunos e/ou antigos alunos da Escola Superior de Teatro e Cinema, onde o dramaturgo leciona.
O projeto é apoiado pela edição 2024 do Concurso de Investigação, Desenvolvimento, Inovação e Criação Artística (IDI&CA) e pelo Politécnico de Lisboa – Instituto Politécnico de Lisboa/Escola Superior de Teatro e Cinema.
No início de julho passado, as duas peças subiram ao palco do Omnibus Theatre, em Londres.
Com o título “Departure — A woman without fear”, a peça de Armando Nascimento Rosa foi traduzida para inglês por Susannah Finzi, que viveu em Portugal nos anos 1970. A obra foi igualmente representada com “A reputation”, da dramaturga britânica.
Duas peças “breves” e “muito diferentes ao nível das opções teatrais”, já que a de Finzi tem um “registo mais realista” e a do dramaturgo português “é mais metateatral”, disse à Lusa Armando Nascimento Rosa, quando da representação em Londres.
Em Lisboa, as peças terão récitas na próxima semana, no dia 18, às 19:00, e nos dias 19 e 20, às 16:00.
A entrada é livre mas está sujeita a inscrição para o endereço de correio eletrónico [email protected].
Esta apresentação em Lisboa é acompanhada de uma exposição temática que confronta a forma como interrogamos e nos relacionamos com diferentes níveis de leitura das memórias históricas, segundo o Museu do Aljube.
CP // MAG
By Impala News / Lusa
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