Comandante dos bombeiros de Castanheira de Pera “troca” viaturas por operacionais

Os Bombeiros Voluntários de Castanheira de Pera não têm bombeiros em número suficiente no corpo ativo se houver necessidade de rendição caso todas as viaturas de combate a incêndios sejam acionadas, disse o comandante em substituição.

Comandante dos bombeiros de Castanheira de Pera

“Eu costumo dizer, por brincadeira, que trocava carros por homens”, afirmou Sertório Costa à agência Lusa.

Segundo este responsável, a corporação tem “oito carros de combate a incêndios florestais”, sendo que cinco das viaturas têm de levar igual número de operacionais. As outras três levam dois homens cada uma.

“O número de elementos no corpo ativo é de 38”, adiantou o comandante em substituição, explicando que, em caso de rendição, não há operacionais em número suficiente.

A diminuição de voluntários na corporação de Castanheira de Pera estende-se às de Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande, os três concelhos onde estão centradas este ano as comemorações do Dia de Portugal.

O comandante sub-regional de Emergência e Proteção Civil da Região de Leiria, Carlos Guerra, adiantou que “existe um decréscimo em todos os corpos de bombeiros nos últimos anos”, diminuição diretamente relacionada com a redução “da população local e também com a disponibilidade de hoje se poder contribuir para a causa do voluntariado”.

Para Carlos Guerra, “este aspeto de relação laboral versus disponibilidade para o corpo de bombeiros é fundamental para o ingresso nas fileiras” das corporações, “porquanto muitos dos empregos hoje não são nos territórios onde se encontram” aquelas.

De acordo com o comandante sub-regional, as corporações de bombeiros dos três concelhos “dispõem de bons equipamentos, sobretudo pelo reequipamento efetuado após o ano de 2017”, quando ocorreram os grandes incêndios de Pedrógão Grande.

Contudo, Carlos Guerra admitiu que “existe sempre a necessidade de ir mantendo os equipamentos e a sua substituição”.

Entre os censos de 2011 e 2021, Castanheira de Pera foi o concelho que mais perdeu população no distrito de Leiria em termos percentuais (17,11%). Este concelho, o de menor dimensão do distrito, que em 2011 tinha 3.191 residentes, passou para 2.645 habitantes, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística.

Sertório Costa subscreve que a diminuição da população está diretamente ligada com o decréscimo de voluntários.

“Os que ainda conseguem trabalhar em Castanheira de Pera” e “os poucos estudantes – também não são assim muitos – que conseguem vir aqui de verão” estão entre os operacionais da corporação.

Reconhecendo haver “muita, muita” dificuldade em aumentar o número de voluntários, este responsável apontou que “não há juventude” no concelho e a pouca que existe anda a estudar e, concluído o curso, vai embora.

Ainda sobre a diminuição de voluntários, admitiu o “medo das responsabilidades”, aludindo ao processo judicial em curso, agora no Tribunal da Relação de Coimbra, sobre a responsabilidade das mortes dos incêndios em junho de 2017, sendo que um dos 11 arguidos é o comandante da corporação de Pedrógão Grande, absolvido em primeira instância.

“Ao fim de semana, já é tudo pago, para conseguirmos ter gente”, adiantou Sertório Costa, referindo que “para ter o mínimo das pessoas está tudo a ser pago” com uma “ajuda ligeirinha”.

Neste aspeto, precisou que, “no mínimo”, devem estar cinco pessoas, esclarecendo que se houver duas emergências o socorro é assegurado.

“Mesmo assim não é fácil. Agora é que é caso para dizer ‘nem a ganhar dinheiro'”, acrescentou este responsável, de 54 anos, bombeiro há 34.

A corporação de Castanheira de Pera tem em curso uma nova escola de formação de bombeiros, com nove pessoas, com idade média de “20 e tal anos” e que “têm trabalho em Castanheira”. A escola termina em junho, após a formação relativa ao transporte de doentes e desencarceramento.

Quanto a viaturas e equipamento, o comandante em substituição referiu que a corporação está bem, assinalando, todavia, haver ambulâncias com mais de 200 mil quilómetros.

As comemorações do Dia de Portugal centram-se este ano em Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande, os concelhos mais fustigados pelos incêndios de junho de 2017, de que resultaram 66 mortos e 253 feridos, além da destruição de casas, empresas e floresta.

O único bombeiro que morreu foi Gonçalo Conceição, de 39 anos, da corporação de Castanheira de Pera.

Em setembro de 2022, o Tribunal Judicial de Leiria absolveu os 11 arguidos no julgamento em que estavam em causa crimes de homicídio por negligência e ofensa à integridade física por negligência, alguns dos quais graves. No processo, o Ministério Público contabilizou 63 mortos e 44 feridos quiseram procedimento criminal.

SR // SSS

By Impala News / Lusa

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