Conheça o vinho de Vila Alva que ainda se faz como no tempo dos Romanos

Entrar na Adega do Mestre Daniel é como recuar no tempo. Os grandes potes de barro levam-nos numa viagem à produção de vinho que se fazia na época dos Romanos e que hoje ainda se mantém!

Trinta anos após a morte do avô, o Mestre Daniel, os irmãos Daniel e Alda Parreira, decidiram voltar a produzir vinho de talha, tal como o avô carpinteiro fazia na sua oficina e adega. Reabriram a adega, em Vila Alva, onde estavam guardadas as 26 talhas, algumas datadas do séc. XIX (daí o nome do projeto atual – XXVI Talhas – e puseram mãos à obra com outros dois amigos, o enólogo Ricardo Santos e Samuel, o designer gráfico), e o marido de Alda, Luís, para produzir o vinho de talha segundo os métodos tradicionais, preservando, estimulando e promovendo este método de vinificação ancestral. A adega, uma das mais típicas de Vila Alva, tem uma área de 170m quadrados e está na posse da família há mais de 60 anos.

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Os vinhos da Adega Mestre Daniel, em Vila Alva

Daniel Parreira e a irmã Alda Parreira, o enólogo Ricardo Santos e o designer gráfico, Samuel
Daniel Parreira e a irmã, Alda Parreira, o enólogo Ricardo Santos e o designer gráfico Samuel
Do Tareco

Esta gama representa os vinhos novos de talha que se bebem nas adegas. O vinho é retirado das talhas logo após o dia de S. Martinho (11 de novembro) e são engarrafados logo em seguida (têm cerca de 2,5 meses de contacto pelicular). São vinhos leves e frescos mas com todo o carácter do vinho de talha.

Mestre Daniel

Para esta gama, no S. Martinho são escolhidas as melhores talhas e o vinho permanece nestas até fevereiro/março do ano seguinte, ficando com cerca de 5 a 6 meses de contacto pelicular, sendo só depois engarrafado. São vinhos com complexidade e gastronómicos.

Mestre Daniel – Talha única

São vinhos single vineyard elaborados com as vinhas mais antigas e vinificados numa única talha. Estes são vinhos exclusivos, sendo produzidas no máximo 1000 garrafas por ano e somente em anos em que a qualidade o justifique.
Tal como na gama Mestre Daniel, têm cinco a seis meses de contacto pelicular. São também vinhos complexos e gastronómicos, mas com um carácter mais refinado do que a gama normal.

Uma aldeia típica localizada no coração do Alentejo

Vila Alva é uma aldeia típica localizada no coração do Alentejo, em Cuba, onde há uma grande cultura e tradição de fabrico de vinho através deste método artesanal, introduzido pelos Romanos há mais de dois mil anos. Nesta aldeia o vinho de talha nunca deixou de ser produzido, seguindo todos os preceitos tradicionais.

Os vinhos XXVI Talhas têm vindo a ganhar notoriedade tanto em Portugal como no Japão, por exemplo, e a sua produção tem vindo a crescer. O objetivo da empresa é fazer vinho como sempre se fez, utilizando uvas provenientes de vinhas velhas de sequeiro, com um mínimo de 20 anos, de solos muito pobres. A intervenção mínima na vinha e na adega deixa expressar ao máximo o ano agrícola, com todas as nuances e variabilidades. Já na adega as diferenças em cada talha também são notórias, permitindo fazer lotes diferenciados.

“No dia de São Martinho vai à adega e prova o vinho”

É sempre em 11 de novembro, dia de S. Martinho, que se faz a abertura de todas as talhas e como se diz pelo Alentejo, “No dia de São Martinho vai à adega e prova o vinho!” , tudo acompanhado por petiscos regionais e as castanhas assadas, que marcam esta data.

A tradição da talha é alentejana

Portugal, mais precisamente o Alentejo, é um dos únicos lugares no mundo a manter a tradição da talha, tendo preservado até aos dias de hoje o processo de vinificação desenvolvido pelos Romanos há mais de dois mil anos. Este vinho, que faz parte do ADN desta região, distingue-se essencialmente pelo facto de fermentar de modo ancestral e espontâneo na talha – através do contacto com o barro –, ao invés de em cubas, o que lhe confere características únicas.

Como se faz o vinho de talha

Em traços gerais, as uvas previamente esmagadas são colocadas dentro das talhas de barro e a fermentação ocorre espontaneamente.
Durante a fermentação, as películas de uvas que sobem à superfície e formam uma capa sólida são mexidas com um rodo de madeira e obrigadas a mergulhar no mosto, para assim transmitir ao vinho mais cor, aromas e sabores. Terminada a fermentação, essas massas assentam no fundo.
Na parede da talha, perto da base, existe um orifício (o batoque ou rolha de cortiça) onde se coloca uma torneira. O vinho atravessa o filtro formado pelas massas de uvas e sai puro e límpido para um alguidar de barro. Depois, enche-se um jarro e prova-se o vinho. É um processo simples e natural, tal como o vinho que ali vinificou.

Vale a pena agendar uma visita

O Vinho de Talha, com 2000 anos de história, é mais do que vinho, é cultura, património e uma herança secular. Agende uma visita e descubra como é delicioso tirar o vinho diretamente da talha e beber, acompanhado por petiscos típicos, como os enchidos e os queijos caseiros. Visitar as vinhas e as suas paisagens, descobrir o que de melhor se faz no Alentejo, assim como as suas tradições. Conhecer as adegas que recebem os visitantes com simpatia e um copo de três na mão!

Reportagem: Virgínia Esteves

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