Amamentação – É um fator decisivo para o vínculo emocional com o recém-nascido?

Deixemos os mitos e vamos aos factos! A Dra. Catarina Lucas, Psicóloga, explica tudo sobre o vínculo da amamentação e responde se é a única forma de criar ligação emocional com o recém-nascido.

Amamentação - É um fator decisivo para o vínculo emocional com o recém-nascido?

Deixemos os mitos e vamos aos factos! A Dra. Catarina Lucas, Psicóloga e Diretora do Centro Catarina Lucas, explica tudo sobre o vínculo da amamentação e responde se é a única forma de criar ligação emocional com o recém-nascido.

“A amamentação pode influenciar significativamente o bem-estar psicológico de uma nova mãe de várias maneiras, tanto positiva como negativamente. A amamentação é um momento íntimo de conexão entre mãe e filho. Para algumas mulheres, essa conexão pode fortalecer os laços emocionais e proporcionar uma sensação de realização e satisfação. A autoestima também pode ser influenciada na medida em que para algumas mães, a capacidade de amamentar com sucesso pode aumentar a autoestima e a confiança, proporcionando uma sensação de realização e competência. Por outro lado, a pressão social e as expetativas em torno da amamentação podem criar stress e ansiedade em algumas mulheres. Sentimentos de culpa ou inadequação podem surgir se a amamentação não for bem-sucedida ou se a mãe enfrentar dificuldades.”

As ‘consequências’ da amamentação

“Surge também o cansaço e a exaustão, já que a amamentação pode ser fisicamente exigente, especialmente nas primeiras semanas após o parto. Isto pode contribuir para o cansaço e a exaustão, afetando o bem-estar psicológico. Outro fator relevante é o isolamento social, pois a necessidade de amamentar com frequência pode levar as mães a se sentirem isoladas socialmente. Por fim, se a amamentação não for bem-sucedida, a mãe pode experimentar frustração, preocupação e até mesmo sentimentos de fracasso. Isso pode afetar negativamente o seu bem-estar psicológico, especialmente se ela se sentir julgada por outras pessoas ou se internalizar sentimentos de inadequação.

A amamentação é frequentemente descrita como um momento especial para criar uma ligação entre a mãe e o recém-nascido. Existem várias maneiras pelas quais a amamentação pode contribuir para essa ligação, nomeadamente através do contacto físico; da libertação de hormonas como a ocitocina que desempenham um papel importante na regulação emocional; interação visual e emocional; alimentação e cuidado.”

A amamentação é a única forma de criar vínculo emocional com o bebé?

“No entanto, é importante ressaltar que a amamentação não é a única maneira de criar uma ligação emocional com o recém-nascido. O vínculo entre mãe e filho pode ser fortalecido por meio de outras formas de cuidado, como o contato pele a pele, o banho do bebé, o cuidado durante a troca de fraldas e a interação amorosa e atenciosa no dia a dia.

Se uma mãe não puder ou optar por não amamentar, isso não significa necessariamente que a ligação com seu filho será afetada. Existem muitas maneiras alternativas de criar uma ligação emocional saudável e forte, incluindo o envolvimento atencioso e amoroso nos cuidados diários do bebé, o contato físico, a comunicação verbal e não verbal, e o tempo de qualidade passado juntos.

Enquanto profissional já acompanhei mães de recém-nascidos profundamente desorganizadas pela pressão social e dos próprios profissionais de saúde para a amamentação. Isto gera nas mães um sentimento de obrigatoriedade na amamentação, acreditando que os seus filhos não serão tão saudáveis ou não desenvolverão o mesmo vínculo caso não sejam amamentados. Gera-se um sentimento de fracasso e insucesso que as pode levar a deprimir e, isso sim, condiciona a funcionalidade enquanto mãe para cuidar do seu bebé. Será mais grave uma mãe deprimida e ansiosa do que uma mãe que não consegue amamentar. Sei de algumas histórias de mulheres a quem lhes é pedido para não amamentarem em público. Por um lado, ainda se considera uma zona do corpo com uma componente sexual e que não deveria ser exposta dessa forma. Todavia, há também outra leitura das coisas. Este tabu está mesmo associado à forma como olhamos a maternidade e a amamentação, como uma coisa íntima, que não deve ser exposta aos olhares de todos.”

Importância de ser quem se quer ser… também enquanto mãe!

“Nós somos o resultado da sociedade onde crescemos e as nossas crenças moldam o nosso comportamento. É importante referirmos que a mulher não tem que amamentar em público se não se sentir confortável. Este momento é visto por muitas mulheres como algo especial, íntimo e, por isso, querem vive-lo de forma mais íntima, não pretendendo expor-se publicamente nesse momento especial que é delas. De igual modo, muitas mulheres procura o conforto e serenidade para amamentar e ligar-se aos seus filhos. Isto acaba por ser difícil quando há muita gente. Não acho que haja uma causa única, pois também se relaciona com a vivência que as mães escolhem ter para a sua maternidade.

Já houve fases em que se considerou que a suplementação dos bebés era muito importante. Neste momento privilegia-se a amamentação materna. E como em tudo, o que foge à norma em determinada fase da sociedade é mal visto. Decidir não amamentar, no momento atual, é mal visto, é visto como egoísmo. Todavia, amamentar é uma opção das mães. Amamentar a todo o custo, apenas porque ouvimos que é o correto, pode deixar as mães em situações emocionais muito complicadas.

É preciso eliminar os discursos atuais, facilmente veiculados através das redes sociais, e que nos dizem constantemente o que temos que fazer, as dicas para alcançar alguma coisa, o quão maus somos quando não o conseguimos ou como parece fácil para outros. Amamentar é normal, mas não amamentar também o é. São escolhas com as quais as mães têm que estar confortáveis. Não criticar, não replicar modelos, ser uma ajuda efetiva. A maternidade e a amamentação são processos individuais, não generalizemos.

À semelhança da história do menino, do velho e do burro, das Fábulas La Fontaine, façamos o que fizemos sempre seremos criticados. Por isso, as decisões devem ser tomadas de acordo com aquilo que fizer sentido para cada pessoa e com as suas capacidades físicas e emocionais.”

Fotos: D.R.

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