Abandono Animal – Medidas para combater o “ato de cobardia”

O ato de abandonar um animal de companhia continua a ser algo recorrente. O Dr. Nuno Paixão explica as consequências e medidas a adotar para combater este fenómeno.

Abandono Animal - Medidas para combater o “ato de cobardia”

O ato de abandonar um animal de companhia continua a ser algo recorrente. O Dr. Nuno Paixão, médico veterinário do Hospital VetCentral e Provedor dos Animais da CM Almada, explica as consequências e medidas a adotar para combater este fenómeno.

“Todos os anos, chega o verão e falamos de abandono de animais de companhia como se fosse uma tragédia desse ano e dessa época. No entanto por mais triste e revoltante que seja, o abandono de animais de companhia, acontece durante todo o ano e em todas as épocas.

As razões do abandono animal

As justificações dadas para o abandono são variadas, tais como: problemas económicos por perda de emprego; aumento do custo de vida; mudança de residência para casas mais pequenas; mudanças na estrutura familiar, tais como nascimento de um bebe, divorcio, doenças ou morte de alguém; expectativas irrealistas, que quem adotou não compreendeu o compromisso necessário para cuidar de outra vida; questões de saúde, como alergias, doenças do próprio animal, etc.

Como vimos as “justificações” para se abandonar animais de companhia, algumas são de total irresponsabilidade e outras compreensivas até um certo ponto e essas pessoas devem ser ajudadas para que não abandonem o seu animal.

 

As consequências 

No entanto, podemos afirmar que abandonar um animal à sua sorte, é um ato de cobardia no mínimo e até pode ser um ato de crueldade criminoso. É uma fonte de sofrimento imensurável, com consequências devastadoras a curto, médio e longo prazo. A sua saúde física fica em risco e a saúde emocional pode sofrer alterações – a perda do ambiente familiar e a incerteza sobre as suas necessidades básicas levam a stress e ansiedade constante.

Será fácil agora perceber que um cão abandonado à sua sorte, virá a ter problemas de saúde física e mental sérios que poderão impossibilitar a sua reabilitação e posterior adoção por uma família.

A culpa do abandono, é de todos nós, pois todos nós temos responsabilidades nisso. Achamos piada à cadelinha que teve uma ninhada e agora vamos dar os bebes aos vizinhos e amigos, ou porque deixamos os nossos animais irem dar uma “voltinha” sozinhos e passado uns tempos aparece uma cadela ou gata grávida e até a culpamos por isso. Porque vimos alguém a deixar um animal na rua e até ignoramos. Porque achamos que entre “homem e mulher, não se mete a colher” e fazemos o mesmo em relação a alguém e os seus animais.

 

Os dois grandes pilares no controlo a médio e longo prazo

Temos demasiados animais sem detentor responsável e isso só tende a piorar por falta de controlo no seu número. Assim, temos que desenvolver estratégias, éticas, morais, científicas e eficazes para controlar a população de animais de companhia, assegurando a sua segurança, proteção e bem estar.

Os dois grandes pilares no controlo a médio e longo prazo, terá de passar pela identificação eletrónica (chip) de todos os animais de companhia e a esterilização massiva a nível nacional. A identificação eletrónica é obrigatória por lei no entanto o Estado deve investir na mesma, através de campanhas mais generalizadas, disponíveis todos os dias e em todas as épocas por todo o país. A identificação, até deveria ser grátis e coerciva. Ou seja, autoridades competentes deveriam identificar todos os animais com que se deparem em qualquer situação.

Devem ser feitas fiscalizações diárias com identificação eletrónica coerciva e imediata. Só assim conseguiremos a tão desejada e chamada “detenção responsável”, em que conseguimos fazer a ligação de determinado animal com determinada pessoa ou instituição, podendo assim responsabilizar alguém e/ou ajudá-la a resolver o seu problema com o seu animal.

Outro pilar fundamental, passa pela esterilização de todos os animais de companhia, podendo haver exceções óbvias tais como animais de interesse genético, criadores registados e legais, impossibilidade por questões de saúde, etc. No entanto, a esmagadora maioria dos animais deviam ser esterilizados para impossibilitar o aparecimento de ninhadas por “acaso” que só contribuem para o mau estar de todos os animais. Sim, há algum debate médico em torno da esterilização, mas estamos em estado de emergência, não são pormenores que podem impedir algo tão importante como o travar de imediato a reprodução de animais “em excesso”.

Qualquer euro que o Estado invista na identificação eletrónica e na esterilização, de cães e gatos, em Portugal, será recuperado em no máximo 5 anos, pois o número de animais irá reduzindo, os abrigos e centros de recolha oficial de animais ficaram com menos pressão, menos animais, levando a menores gastos e principalmente levará a menos sofrimento, sofrimento de animais e de pessoas envolvidas no processo.

Ter um animal de companhia não é um capricho. Não é um direito, é sim um privilégio que temos de cuidar, proteger e acarinhar em todas as fases da sua e da nossa vida. Se não o conseguimos, então devemos ter a coragem e responsabilidade de não os ter.

Termino pedindo a ajuda de todos na luta de uma identificação eletrónica e esterilização, generalizada, potencialmente gratuita e nacional de cães e gatos”.

Fotos: D.R

Notícia www.vip.pt

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