Sónia Brazão recorda explosão: «Quando se está numa unidade de queimados, a nossa cabeça viaja»
Sónia Brazão abriu o coração para, em conversa com Manuel Luís Goucha, falar sobre o acidente que sofreu em 2011 e que a mudou por completo, física e psicologicamente.
Sónia Brazão foi a convidada de Manuel Luís Goucha no Você na TV! de quarta-feira, 02 de setembro, e abriu o coração para falar sobre o processo por que tem passado nos últimos nove anos, depois da explosão no seu apartamento que quase lhe tirou a vida e a deixou com 90% do corpo queimado.
A atriz começou por referir que a recuperação tem sido «um processo lento» e que o acidente lhe veio trazer um novo olhar, sobre ela própria e a forma como encara a vida. «Eu diria que é um processo de cura de dentro para fora. De pacificação comigo. E foi este processo de dentro para fora que, e estes milagres visíveis, me serenou», afirmou.
Visivelmente comovida ao falar sobre a transformação física e psicológica por que tem passado, Sónia Brazão confessou gostar mais da mulher em que se tornou depois do acidente.
«Gosto mais desta Sónia. Esta Sónia tem mais tempo, é mais disponível para ouvir os outros, gosta de estar mais serena, não está tão preocupada com o futuro nem com o que vai ser o amanhã. Importa o dia de hoje. Vamos aproveitar o hoje, aquilo que encontramos de belo hoje, desfrutar dos amigos, do tempo e seguir, sempre com um sorriso», confidenciou.
«Quero fazer terapia para o resto da vida»
Para atingir este estado de serenidade e felicidade, a atriz revelou ter recorrido a ajuda psicológica de profissionais que lhe lhe deram mecanismos para se auto-conhecer. «Eu tive a ajuda deles [psicólogos], ainda hoje tenho. Tornaram-se meus amigos. E eu acho que quero fazer terapia para o resto da vida. Cuidar da nossa mente é a coisa mais importante.»
Também a prática de Yoga ajudou Sónia a sentir-se tranquila e a respirar. A atriz sugeriu que o facto de ter tido dificuldade em respirar no incêndio em 2011 a traumatizou, tendo sentido necessidade de voltar a aprender a respirar.
«O Yoga pode ajudar porque nós estamos sempre a conversar connosco, temos tempo para aprender a respirar e a respiração é fundamental para a nossa vida. Nós achamos que é um dado adquirido mas, sabes Manuel, foi das coisas que mais me traumatizou foi, precisamente, o não conseguir respirar. É uma coisa que agradeço todos os dias, sempre que faço aula, é o poder fazer aquela prática sem dor, sentir, respirar. E como nós respiramos mal, eu tive de reaprender a respirar, foi muito giro, tem sido uma jornada gira», revelou.
«Tive algumas desilusões»
Quanto às amizades, e quando questionada pelo apresentador da TVI sobre se tinha perdido alguns amigos após o acidente, Sónia confidencou ter tido «algumas desilusões» e explicou o porquê: «Tive algumas, umas mais que outras. Mais difíceis de resolver dentro de nós e de encontrar uma explicação. Até que percebi que muitas vezes as pessoas elas não estiveram comigo porque não gostavam, elas não estiveram comigo porque não sabiam lidar com a situação. Não sabiam como se haviam de aproximar, queriam dar-me espaço e respeitar. Outros que se foram para sempre, é porque não tinham que estar. E alguns que vieram, que não tinham nem sequer que vir e estavam lá.»
«Quando se está numa unidade de queimados, a nossa cabeça viaja»
Consciente e em paz, Sónia aproveitou o momento para, em frente à câmara, deixar uma mensagem a quem possa estar a passar pela situação de sofimento por que ela passou.
«Quando se está numa cama de hospital, numa unidade de queimados, a nossa cabeça viaja e pensamos: “meu deus, como eu vou ficar». A gente pensa as piores coisas e não é possível. É possível ficarmos bem, há tantos tratamentos hoje em dia e não tenha medo. É essencialmente isso que eu quero, que as pessoas que já sofreram e estão a sofrer queimaduras não tenham medo. Vai tudo ficar bem, com o tempo. Porque neste caso o tempo é mais nosso amigo do que inimigo», aconselhou.
Quando questionada por Manuel Luís Goucha se ainda doía falar sobre o assunto, Sónia emocionou-se e, sem voz, apenas acenou com a cabeça dizendo que sim.
«É muito bom ser aplaudida mas também é bom poder aplaudir os colegas»
Sobre o regresso ao trabalho na ficção nacional, a atriz afirma que neste momento está parada e que, por já estar há tanto tempo sem fazer nada, já se habituou. «Neste país, acontecem muitas coisas na nossa área sem sentido. Eu apenas sou mais uma. Neste processo também aprendi outra coisa que é: “é muito bom ser aplaudida mas também é bom sentar e poder aplaudir os colegas, o trabalho dos colegas na televisão, sentar, relaxar e dizer: “eu nao tenho nada a ver com aquilo, que maravilha”».
Contudo, e embora afastada do mundo da televisão há alguns anos, Sónia tem estado a trabalhar com jovens «numa escola de artes performativas».
Por fim, a atriz agradeceu «todo o carinho ao longo destes nove anos». «Obrigada por me fazerem acreditar que eu ia ficar bem. Obrigada a todos, que todos os dias vão às minhas páginas e me dão palavras de alento. Obrigada aos meus leitores, obrigada ao Dr. Ângelo Rebelo, que também está sempre comigo. (…) Um beijinho grande a minha mãe, que eu sei que ela está a ver», terminou.
Texto: Marisa Simões;
Siga a Impala no Instagram