Renato Seabra Assassinou Carlos Castro há 14 anos!

A relação tinha cerca de três meses quando o aspirante a modelo e o cronista social viajaram até Nova Iorque, nos Estados Unidos. Uma semana depois, o primeiro assassinou o segundo. O crime chocou Portugal pelos seus contornos.

Renato Seabra Assassinou Carlos Castro há 14 anos!

Dia 7 de janeiro de 2011. Quarto 3416, situado no 34.º andar do Hotel Intercontinental, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Era aqui que estavam hospedados Carlos Castro, então com 65 anos, e Renato Seabra, com 21. Os dois tinham-se conhecido apenas três meses antes. Trocaram mensagens carinhosas e tiveram alguns encontros. A viagem que fizeram até território norte-americano prometia momentos de paixão. 

E assim foi durante cerca de uma semana, em que visitaram pontos emblemáticos da cidade. Ninguém imaginava que a mesma terminaria com um crime hediondo: o jovem manequim assassinou barbaramente o cronista social. Acabaria por confessar o que fez e, em dezembro de 2012, foi condenado a 25 anos de prisão. Está desde então detido no estabelecimento de alta segurança Clinton Correctional Facility (CCF), conhecida por ser a “pior prisão do mundo”, disse Hernâni Carvalho, especialista em casos de criminalidade e apresentador do programa Linha Aberta, da SIC. 

Situado no estado de Nova Iorque, este estabelecimento prisional, construído em 1844, é conhecido como “a Sibéria de Nova Iorque” devido à sua proximidade com a fronteira com o Canadá, onde o clima é bem frio. Renato Seabra foi lá parar devido ao “tipo de crime” que cometeu, explicou o também jornalista em tempos, acrescentando que existem perto de dois mil reclusos e para cada três deles há um guarda. Mais: a CCF tem, desde 2008, o chamado “corredor da morte”.

Em 2019, as últimas informações públicas relacionadas com o modelo de Cantanhede, agora com 35 anos, diziam que ele trabalhava “na confeção de roupas” e era acólito. Anos antes, o próprio descreveu, numa carta enviada à então correspondente da TVI Marta Dhanis, como era o seu quotidiano. “Eu aqui tenho dias em que vou abaixo, choro, começo a pensar na pena que tenho de fazer, no sofrimento que a minha família tem, nos sonhos que tenho, mas que se tornaram tão difíceis de acreditar (…) Enfim, tantas coisas. Tento manter-me ocupado, ler, trabalhar, ver televisão. Mas, sabes… há dias que me sinto tão deprimido que não me apetece fazer nada”, desabafou. “Nesta idade [tinha 23 anos] em que as pessoas fazem planos para a vida, eu somente posso rezar e pedir a Deus para fazer um milagre e reduzir a minha sentença. Se Deus quiser, vai acontecer algo de bom. Tem de se ter fé”, dizia ainda. “Por aqui, há dias muito difíceis. Nesses dias, rezo muito. Peço ajuda a Deus, releio cartas da minha família e amigos. Sabes… tenho uma grande mãe que me apoia muito (…) Tenho algumas pessoas com quem falo, mas passo mais tempo sozinho”, acrescentava.

Apesar da alta segurança, em 2015, a prisão deixou escapar dois reclusos, Richard Matt e David Sweat, ambos condenados por assassinato. Acabaram por ser mortos a tiro durante as buscas. É aqui que Renato Seabra ficará até, no mínimo, 2036, quando a pena deverá ser revista: nessa altura, poderá sair em liberdade condicional e regressar a Portugal ou, caso os juízes responsáveis entendam que a sua reinserção na sociedade não é possível, poderá ver a sua condenação ajustada para prisão perpétua. Quando chegar o momento dessa decisão, terá 46 anos.

Leia mais: Renato Seabra e Daniel Sancho – As semelhanças sinistras entre os dois casos de assassinato

Modelo assume que mutilou o cronista

A relação entre Renato Seabra e Carlos Castro começou quando o primeiro participou no concurso da SIC ‘À Procura do Sonho’. O segundo deu o primeiro passo ao enviar-lhe, no início de outubro de 2010, uma mensagem. “Vou ao Porto, ao Portugal Fashion, estás por perto? Acho-te giro e és altíssimo, falamos se quiseres. Um abraço amigo”, terá dito. Dias mais tarde, as palavras revelavam maior intimidade. “Querido… hoje, sábado [16 de outubro do mesmo ano] aqui estou (ainda) no hotel… (pensei muito em ti) e para te mandar ternuras”. Seabra respondeu: “Como te disse por mensagem também tenho pensado muito em ti… pensei em tudo que disseste e quero estar contigo!! Um beijinho grande”.

Os dois acabaram por apanhar o avião para os EUA a 29 de dezembro. A 7 de janeiro, tal como descrito pela Polícia, Carlos Castro foi estrangulado por Seabra, que ainda o esfaqueou com um saca-rolhas, utilizado também para lhe cortar o escroto e os testículos. Em tribunal, o modelo viria a confessar que tudo começou com uma “discussão verbal que se transformou numa altercação física”. “O arguido afirmou que agarrou Carlos à volta do pescoço pelas suas costas e o arrastou, depois, pelo chão, enquanto pressionava a sua traqueia. O arguido afirmou que esfaqueou Carlos com um saca-rolhas na zona da virilha e na cara. O arguido afirmou que cortou os testículos de Carlos com esse saca-rolhas. O arguido afirmou que atingiu Carlos na cabeça com o monitor de um computador e que pisou a cara de Carlos, com os sapatos calçados. O arguido afirmou que atacou Carlos durante, pelo menos, uma hora. O arguido afirmou que, depois disso, despiu a roupa, tomou um duche, vestiu um fato e abandonou o quarto”, descreveu.

Em 2018, Diogo Costa, amigo do manequim, explicou que este vive num clima de constante tensão. “Já se sabe como é que são aquelas prisões (…). Há muitos ataques, problemas, é um meio muito hostil. No caso do Renato, creio que também já lhe aconteceu ser incomodado, mas isso acaba por ser normal num local daqueles”, afirmou. 

Na CCF, Seabra tentou o suicídio pelo menos duas vezes e teve vários surtos psicóticos. Esse amigo garantiu, na mesma altura, que ele não sabia porque fez o que fez. “Foi uma coisa que lhe passou naquele momento pela cabeça e que deve ter sido provocada por algo de muito grave. Porque o Renato nunca foi violento, nunca o vi, sequer, a ter uma discussão mais forte”, defendia.

Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: Impala

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