Pedro Mourinho faz relato impressionante após guerra na Ucrânia: “Não se volta igual”

Pedro Mourinho foi um dos enviados especiais da TVI à Ucrânia. O jornalista, na companhia do repórter de imagem Nuno Quá, sentou-se com Cristina Ferreira para uma conversa arrepiante sobre os momentos que viveu na guerra

Pedro Mourinho foi um dos enviados especiais da TVI à Ucrânia para fazer a cobertura da invasão da Rússia àquele país. O jornalista regressou a Portugal após três semanas em Kiev, onde foi aconselhado a sair por questões de segurança. Nesta quarta-feira (09), o comunicador esteve no programa “Goucha” e descreveu o cenário de guerra. “Eu e o Nuno saímos [ de Kiev] porque basicamente foi-nos imposto por uma questão de segurança pela nossa direção. Queríamos ter continuado a trabalhar”, contou a Cristina Ferreira, que tem substituído Manuel Luís Goucha desde a passada segunda-feira, dia 07, depois de o apresentador ter testado positivo para a Covid-19.

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Pedro considera muito duro o trabalho de um jornalista neste cenário de guerra. Um trabalho de missão, que segundo o próprio, considera fundamental. “Ser os olhos do mundo, os olhos do país e de contar aquilo que se passa”, descreveu. Ao longo da conversa, Pedro Mourinho explica que, muitas vezes, é impossível ser insensível a imagens duras como as que viu em Kiev. Contudo, salienta que é necessário controlar as emoções. “É difícil”, recordou.

Já em Portugal, foram muitos aqueles que demonstraram a sua preocupação com o jornalista. ”As pessoas estão muito preocupadas se venho tranquilo, de alguma forma normal, se fui muito afetado por aquilo que vi. É óbvio que aquilo mexe contigo, mas não considero que tenha ficado desequilibrado. Acho que me tornei melhor pessoa. Os problemas do dia a dia deixam de ser problemas quando tu te deparas com aquelas situações”, explicou. “Não se volta igual, isso é uma certeza”, frisou Cristina Ferreira. “Não, não se volta igual, volta-se melhor, mais sensível, talvez…”, continuou Pedro Mourinho.

Nesta conversa, o enviado especial referiu que a sua partida para Kiev o apanhou de surpresa. “Foi um pouco em cima da hora, ainda estive umas horas a refletir. Tinha coisas da minha vida pessoal para resolver…”, contou.  “A ideia com que eu fiquei, que toda a gente tinha, era que não se iria passar nada, não iria colidir nenhuma espécie de conflito”, acrescentou ainda.

O jornalista revela ainda que soube do início da guerra por Paulo Fonseca. “Qual é a tua primeira reação?”, perguntou Cristina Ferreira. “Trabalhar”, respondeu. “A partir daí o que é que se espera?” questionou ainda a apresentadora. “Não se sabe muito bem, começas a ler notícias, a tentar perceber o que se passa no terreno. Naquela manhã não sabíamos o que podia acontecer”, referiu Pedro Mourinho.

“A cara denunciava o medo”

Nesta terça-feira (08), Cristina Ferreira partilhou um pequeno vídeo de uma reportagem de Pedro Mourinho. E legendou: “No dia eu que vi este direto do Pedro mandei-lhe uma mensagem só a dizer: cuida-te. Protege-te. Estou aqui. A cara denunciava o medo. O som das sirenes é avassalador.”

Perante a descrição, o jornalista explicou em direto o que sentiu: “Aquilo que eu estou a sentir não é medo, é uma enorme revolta por me aperceber que tinha começado uma guerra que tu sentias como injusta e imoral”. E recordou: “É arrepiante [o som das sirenes].É quase algo tétrico de ouvir.”

“Nunca tiveste medo?”, perguntou Cristina Ferreira. “Há uma noite que eu tenho receio porque começo a ouvir disparos, guerra à porta do meu hotel, fiquei a saber depois que haveria uma unidade muito pequena de soldados russos que teria chegado sozinha ao centro de Kiev e os combates tiveram lugar na avenida principal. Foi uma hora de disparos, rebentamentos e duas passagens de aviões…  Achei que aquilo ia ser o momento. Essa foi a noite mais complicada”, disse.

Pedro foi falando com a família. “O meu filho Miguel dizia-me pai tu vê lá, tem cuidado. Às vezes com lágrimas nos olhos. A Carolina, está nos EUA, estava bastante preocupada”, contou.

E apesar da capa de “duro”, houve um momento em que o jornalista quebrou. “Quebrei somente num momento, sozinho. (…) O Nuno Quá vai comprar qualquer coisa à rua e aí eu tenho uns minutos complicados, foram só meus.”

Nuno Quá, o repórter de imagem que acompanhou o jornalista, também entrou na conversa e recordou a sua passagem por Kiev. Os dois trabalharam arduamente e foram poucas as horas de descanso. Ainda assim, segundo Pedro, o trabalho sempre esteve em primeiro lugar. “O teu espírito de missão, aquilo que tens que fazer, informar, dar o melhor de ti, não te deixa andar cansado”, disse.

Texto: Márcia Alves; Fotos: Impala e reprodução Instagram

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