«Língua de covid-19» é o novo sintoma do coronavírus

Um em quatro infetados pelo novo coronavírus apresenta ‘língua de covid-19’, com sintomas como alterações na mucosa oral, úlceras bucais e outros.

«Língua de covid-19» é o novo sintoma do coronavírus

Durante a primeira onda da pandemia, na primavera de 2020, Espanha sofreu a sobrelotação nos hospitais que hoje se vê em Portugal. Tal como agora no nosso país, naquela altura o país-vizinho alocou muitas das salas e equipamentos de outras patologias à torrente de pacientes de covid-19 em estado crítico. Muitas cirurgias foram, como agora cá, adiadas para responder de forma mais eficaz à pandemia. Com as cirurgias de tumores de pele canceladas no hospital La Paz, em Madrid, a dermatologista Almudena Nuño González apresentou-se para trabalhar como voluntária no hospital de campanha montado no recinto de feiras da Ifema, ao qual começavam a chegar, no final de março, centenas de pacientes com covid-19. A médica não pôde evitar observá-los com o olhar de dermatologista e começou a apontar sintomas marcantes, como a língua de covid-19.

Como se diagnostica a língua covid-19

Língua dilatada e com marcas dos dentes nas laterais de um paciente com covid-19
Língua dilatada e com marcas dos dentes nas laterais de um paciente com covid-19

“Encontrámos algumas alterações na língua que, até então, não tinham sido relacionadas à covid-19”, explica a especialista ao El País. “É uma língua dilatada, como se estivesse inchada, na qual se veem as marcas dos dentes, e também pode estar pálida, com pequenos furinhos em algumas áreas onde as papilas estão achatadas. É uma língua com manchas rosadas”, completa Nuño González, cuja equipa anunciou as descobertas nesta terça-feira, 26 de janeiro, em comunicado.

Os sintomas da língua covid-19

Almudena Nuño González, dermatologista do Hospital Universitário La Paz
Almudena Nuño González, dermatologista do Hospital Universitário La Paz

Almudena Nuño González e os colegas estudaram 666 pacientes internados entre 10 e 25 de abril do ano passado no hospital de campanha de Ifema. Os pacientes tinham em média 56 anos e quase metade era latino-americana e apresentavam quase todos “pneumonias leves ou moderadas”. A análise mostrou que pouco mais de um em cada quatro apresentava igualmente alterações na mucosa oral, como a papilite lingual transitória (11%) – doença inflamatória que causa pequenas protuberâncias na língua –, úlceras bucais (7%), língua dilatada com marcas dos dentes laterais (7%), sensação de ardência (5%) e inflamação da língua com despapilação (4%). Estes resultados foram entretanto publicados, em setembro, na revista British Journal of Dermatology.

Alterações nas palmas das mãos e dos pés

Nuño González destaca que outros fatores poderiam explicar alguns desses sintomas, como alguns medicamentos ou a ventilação com oxigénio, que seca a boca e pode irritar a língua. Só que “a língua despapilada deve-se 100% à covid-19, porque não ocorre por mais nenhuma outra circunstância ou tratamento”, diagnostica. “É uma descoberta que pode auxiliar no diagnóstico, como a perda do olfato ou do paladar. São sintomas muito característicos”, diz.

Os dermatologistas também detectaram alterações na pele das palmas das mãos e das plantas dos pés em quase 40% dos pacientes, principalmente descamação (25%), pequenas manchas de cor avermelhada ou acastanhada (15%) e sensação de ardência conhecida como eritrodisestesia (7%). Ao todo, quase metade dos doentes analisados em Ifema apresentava sintomas na pele ou na mucosa da boca: a língua covid-19.

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