Diplomatas repreendem Israel no Conselho de Segurança da ONU por morte de civis em Gaza
Israel foi hoje alvo de repreensão de vários diplomatas, incluindo ocidentais, no Conselho de Segurança pela contínua falta de proteção de civis na ofensiva em Gaza e incumprimento do direito humanitário e de deliberações vinculativas de organismos internacionais.
Numa reunião do Conselho de Segurança para abordar a situação em Gaza, o vice-embaixador dos Estados Unidos na ONU, Robert Wood, foi o primeiro diplomata a repreender Israel por bombardear no domingo um campo de deslocados em Rafah (sul da Faixa de Gaza), após o ter declarado como uma “zona segura”.
“Israel disse que as mortes de civis foram um erro, (…) mas Israel deve fazer mais para proteger os palestinianos inocentes em Gaza”, afirmou Robert Wood.
“Israel tem o direito de se defender contra o Hamas, mas Israel também tem a obrigação de proteger os civis. O facto de os líderes e combatentes do Hamas se esconderem entre civis não diminui a necessidade de Israel conduzir as suas operações de acordo com o direito humanitário internacional”, acrescentou.
O diplomata norte-americano advogou ainda que o padrão contínuo de “danos civis significativos” resultantes de ataques como os de domingo “mina os objetivos estratégicos de Israel em Gaza” e defendeu a existência de “alternativas a uma operação israelita em grande escala” em Rafah para derrotar o grupo islamita Hamas.
No seu discurso, Wood também apelou a Israel para “remover qualquer barreira nos cruzamentos e rotas” para a entrega de ajuda humanitária e instou Telavive a desbloquear os fundos palestinianos congelados em bancos israelitas.
Uma das vozes mais críticas das ações israelitas foi a da representante permanente da Guiana junto da ONU, Carolyn Rodrigues-Birkett, que rejeitou as justificações dadas pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, para um dos massacres mais sangrentos desta guerra, com dezenas de vítimas mortais e centenas de feridos no bombardeamento do campo de deslocados no domingo.
“Parecia que a crise de Gaza não poderia piorar até tomarmos conhecimento dos acontecimentos do passado domingo. (…) Foram queimadas pessoas vivas, e tudo isto numa zona designada como segura, um lembrete assustador de que não existem lugares seguros em Gaza”, disse a embaixadora.
“Este Conselho não deve continuar a aceitar as explicações demasiado familiares de que estes incidentes são ‘erros’ ou ‘erros de cálculo’. Não há justificação para o assassínio de civis inocentes”, frisou.
A Guiana exigiu uma investigação internacional “independente e rápida” para apurar os factos em torno do ataque de domingo, “incluindo para identificar os autores”.
Carolyn Rodrigues-Birkett foi mais longe e desafiou o Conselho de Segurança a “considerar seriamente” o “flagrante desrespeito pelo Estado de direito”, referindo-se diretamente à falta de cumprimento de Israel das ordens emitidas pelo Tribunal Internacional de Justiça, a principal instância judicial da ONU que ordenou a Telavive que cesse a ofensiva no sul de Gaza.
Também o embaixador francês, Nicolas de Rivière, voltou hoje a pressionar o Conselho de Segurança a pronunciar-se urgentemente sobre a situação em Rafah e a apelar ao fim da ofensiva israelita.
Rivière recordou que o Conselho de Segurança da ONU já adotou três resoluções sobre o fim dos combates e a entrega de ajuda humanitária em Gaza, ressaltando que estas são “vinculativas e devem ser respeitadas”.
Desde o ataque sem precedentes do grupo islamita Hamas contra Israel, em 07 de outubro de 2023, e o início das represálias israelitas na Faixa de Gaza, o Conselho de Segurança tem lutado para conseguir falar a uma só voz.
Depois de duas resoluções centradas principalmente na ajuda humanitária, o órgão da ONU – cujas resoluções têm caráter vinculativo – finalmente exigiu um “cessar-fogo imediato” no final de março, um apelo que vinha sendo bloqueado consecutivamente pelos Estados Unidos, fortes aliados de Israel, que desta vez se abstiveram.
Embora as resoluções do Conselho de Segurança sejam teoricamente vinculativas – e não apenas simbólicas, como as da Assembleia Geral -, as resoluções aprovadas não tiveram qualquer efeito no terreno, uma vez que Israel recusou implementá-las.
Na terça-feira, a Argélia colocou a circular entre os Estados-membros do Conselho de Segurança da ONU um projeto de resolução “curto” e “decisivo” “para parar a matança em Rafah”.
Contudo, há a possibilidade de Washington usar novamente o seu poder de veto, tendo em conta as declarações de hoje de Robert Wood, que afirmou que uma nova resolução “não ajudaria” e “não mudaria a situação no terreno”.
O texto, para o qual ainda não há uma data para votação, exige também “um cessar-fogo imediato respeitado por todas as partes” e “a libertação incondicional de todos os reféns”.
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By Impala News / Lusa
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