Von der Leyen redesenha “linhas vermelhas” com direita radical em “moderação”
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, assumiu na campanha para as europeias trabalhar com partidos à sua direita que abandonem o antieuropeísmo e defesa da Rússia, enquanto, segundo analistas, alguns daqueles moderam posições ambicionando o poder.
Sophia Russack, do Centre for European Policy Studies (CEPS), considerou à Lusa que há uma tendência de moderação por parte dos Reformistas e Conservadores Europeus (ECR), grupo de partidos que pode ser incentivado depois de von der Leyen, recandidata pelo Partido Popular Europeu (PPE, centro-direita), ter admitido que está disponível para dialogar com aqueles que cumpram determinados critérios, apontando a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni (Irmãos de Itália), como exemplo de alguém à sua direita com quem trabalhar.
Os partidos de extrema-direita nos países da União Europeia (UE) incorporam um de dois grupos políticos: o Identidade e Democracia (ID) e o ECR. Os pouco homgéneos partidos que compõem estes grupos políticos oscilam, por exemplo, entre o euroceticismo e o europeísmo, apoiar inequivocamente a Ucrânia e proximidade ao Kremlin.
“Acho que o ECR e os partidos que continuem no ECR acabaram por moderar-se cada vez mais e vai ser cada vez mais divergente [do ID], talvez […]. Mas a linha que hoje separa o ECR e o ID está esbatida”, sustentou Sophia Russack.
Ursula von der Leyen estabeleceu três “linhas vermelhas” para o PPE dialogar com outros grupos políticos (incluindo a extrema-direita): visão europeísta, posição a favor da Ucrânia e o cumprimento do Estado de direito. O seu principal adversário, Christian Schmit (Socialistas e Democratas), rejeitou qualquer entendimento com partidos à direita do PPE.
A investigadora é da opinião que von der Leyen “vai fechar os olhos” ao cumprimento do Estado de direito e advogou que essa postura já é visível com a relação que tem com Meloni, conservadora e crítica do apoio prestado a imigrantes e refugiados.
A pouco mais de duas semanas das eleições para o Parlamento Europeu (PE), a delegação da Alternativa para a Alemanha (AfD) foi expulsa do grupo partidário Identidade e Democracia (ID), na quinta-feira, após o cabeça de lista do partido de extrema-direita alemão, Maximilian Krah, declarar que era incorreto apelidar de “criminosos” todos os elementos da antiga organização paramilitar nazi SS (Schutzstaffel).
A decisão levou à renúncia de Krah, mas também pode ser o início de uma fragmentação na extrema-direita no Parlamento Europeu, que já tem dificuldades em encontrar consensos.
Mas a AfD, que até hoje está sem grupo político, não foi o único partido que deixou a sua família política. O Fidesz – União Cívica Húngara, partido o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, abandonou o PPE em março de 2021 depois de os partidos que compunham este grupo político aprovarem a sua suspensão pelas posições eurocéticas, contra o apoio à Ucrânia e pela proximidade de Orbán ao Presidente russo, Vladimir Putin.
“Isto é tudo muito difícil de prever, mas há partidos de extrema-direita que querem moderar o discurso porque perceberam que é o único caminho para o poder”, acrescentou Sophia Russack.
“Até pode ser já haja três grupos [de extrema-direita]”, admitiu a investigadora, reconhecendo, contudo, que, por exemplo, para a AfD ou o Fidesz criarem mais um grupo político “precisam de mais seis parceiros”.
Sem fazer previsões, mas analisando a evolução da dinâmica político-ideológica, Sophia Russack perspetiva que possa haver “os da extrema-direita mais afastados” da UE, “que são pró Rússia e muito, muito antieuropeus”.
Em simultâneo poderá haver outro grupo constituído pelos partidos que “são de uma direita mais protecionista” e que “são apenas críticos da UE” sem verbalizar oposição às decisões do bloco comunitário.
Uma “economia saudável” também pode definir a maneira como certos partidos de extrema-direita se posicionarão, neste caso, mais próximos do ECR, que tem caminhado para a moderação para poder ‘entrar em jogo’ nas decisões com o PPE.
“Tudo isto depende muito de como é que os partidos individuais agem, se estão a caminhar para a moderação ou radicalização no próximo mandato e como é que os grupos se alteram depois das eleições”, concluiu Sophia Russack.
Zselyke Csaky, investigador do Centre for European Reform, concorda e reconhece que houve “muito movimento à direita, com partidos como a AfD da Alemanha a passarem do ECR de extrema-direita para se juntarem ao ID de extrema-direita ou o Fidesz da Hungria a ser expulso para o deserto político”.
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By Impala News / Lusa
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