Ucrânia: Reunião da OCSE marcada por alta tensão entre Lavrov e homólogos ocidentais
A reunião ministerial da Organização de Segurança e Cooperação na Europa (OCSE), realizada hoje em Malta, foi marcada por grande tensão e acusações cruzadas entre a delegação russa e vários países ocidentais aliados da Ucrânia, incluindo os Estados Unidos.
Na reunião ministerial dos 57 países-membros, em que o chefe da diplomacia da Ucrânia, Andrii Sybiga, tratou o homólogo russo, Sergei Lavrov, como “um criminoso de guerra”, o governante de Moscovo retorquiu com ameaças e críticas ao Ocidente, dirigidas em particular aos Estados Unidos.
Quando Lavrov discursava, os ministros dos Negócios Estrangeiros polaco e estónio abandonaram a sala, segundo a descrição da agência Associated Press.
“O senhor Lavrov vem aqui mentir sobre a invasão russa e o que a Rússia está a fazer na Ucrânia. E não vou dar ouvidos a essas mentiras. Não me vou sentar à mesma mesa do senhor Lavrov”, justificou o ministro polaco, Radoslaw Sikorski, que defendeu a suspensão da Rússia da OSCE enquanto esta continuar a sua “guerra brutal”.
Na sua intervenção, o ministro russo acusou os Estados Unidos, cujo secretário de Estado, Antony Blinken, também esteve presente na reunião na cidade de Ta’ Qali, de “desestabilizar o continente euro-asiático” e de reencarnar a Guerra Fria, “mas agora com o risco muito maior da sua escalada para a fase quente”.
Depois da “desgraça afegã”, os Estados Unidos tiveram necessidade de “um novo inimigo comum” e de “devolver a NATO aos holofotes políticos”, prosseguiu o chefe da diplomacia de Moscovo, na sua primeira paragem num país da União Europeia desde a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Lavrov, o quarto orador da reunião, criticou ainda os países ocidentais de explorarem e marginalizarem a OCSE e de não darem ouvidos aos avisos do Presidente russo, Vladimir Putin, enquanto estariam a considerar o envio de forças de manutenção da paz para a Ucrânia em caso de um cessar-fogo. E depois também abandonou a sala.
“Lamento que o nosso colega, o senhor Lavrov, tenha saído da sala, não dando a cortesia de nos ouvir como o ouvimos”, criticou de seguida o secretário de Estado norte-americano, devolvendo a acusação de escalada da tensão na Europa.
Antony Blinken apontou o envio de forças norte-coreanas para a Europa, o uso de um míssil balístico de alcance intermédio para atacar a Ucrânia, a decisão do Kremlin de reduzir os limites para a utilização de armas nucleares e os ataques às infraestruturas energéticas ucranianas.
“O Senhor Lavrov falou sobre o direito soberano de cada Estado-membro de fazer as suas próprias escolhas. É exatamente disso que se trata: o direito soberano da Ucrânia e do povo ucraniano de fazerem as suas próprias escolhas sobre o futuro, e não de permitir que essas escolhas sejam feitas em e por Moscovo”, prosseguiu o governante norte-americano.
Anteriormente, o chefe da diplomacia ucraniana já tinha descrito Lavrov como um “criminoso de guerra” e avisou-o que “a Ucrânia continua a lutar pelo seu direito à existência” e que “a justiça vai prevalecer”.
A Rússia “mente” quando fala de paz e representa “a maior ameaça” à segurança na Europa, acusou ainda.
A OSCE, fundada em 1975 para aliviar as tensões entre o Oriente e o Ocidente durante a Guerra Fria, conta com 57 membros, incluindo Portugal e desde a Turquia à Mongólia, incluindo o Canadá, além dos Estados Unidos, a Ucrânia e a Rússia.
Durante a última reunião, há um ano, na Macedónia do Norte, Lavrov acusou a OSCE de se ter tornado num “apêndice” da NATO e da UE e, na que ocorreu em 2022, a Polónia recusou-se a recebê-lo.
Um porta-voz de Malta, país anfitrião da edição deste ano, alegou que Lavrov foi sujeito a um congelamento de bens por parte da UE, mas não foi proibido de viajar no espaço europeu, tendo sido convidado para se apresentar em Ta’ Qali para “manter abertos certos canais de comunicação”.
A OSCE está paralisada desde a invasão da Ucrânia, com a Rússia a vetar várias decisões importantes que exigem consenso.
Os cargos de secretário-geral e de outros três altos funcionários da organização estão vagos desde setembro, por falta de acordo sobre os seus sucessores.
A secretária-geral cessante, a alemã Helga Maria Schmid, foi nomeada em dezembro de 2020 para um mandato de três anos, prolongado até setembro.
Os embaixadores concordaram que o diplomata turco Feridun Sinirlioglu lhe sucedesse, disse uma fonte diplomática à agência France-Presse, mas a decisão ainda terá de ser aprovada pelos ministros reunidos em Malta.
Estes últimos terão também de chegar a acordo sobre o país que presidirá à OSCE em 2026 e 2027.
A Rússia impediu a Estónia, membro da NATO, de assumir a presidência este ano, enquanto em 2025 a Finlândia, que aderiu à Aliança Atlântica no ano passado, assumirá esse papel.
A OSCE envia observadores para conflitos e eleições em todo o mundo. Gere também programas para combater o tráfico de seres humanos e garantir a liberdade dos meios de comunicação social.
Mas os seus esforços foram dificultados pela incapacidade de chegar a acordo sobre um orçamento desde 2021.
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By Impala News / Lusa
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