Protestos pela morte de Mahsa Amini atingem a indústria petrolífera do Irão
Os trabalhadores de um grande complexo de refinarias cruciais para o enorme campo de gás natural ‘offshore’ do Irão protestaram hoje pela morte de uma mulher de 22 anos, a 16 de agosto, mostram vários vídeos ‘online’.
As manifestações em Asaluyeh, no sul do Irão e junto ao Golfo Pérsico, são as primeiras na região desde que começou a agitação civil em torno da morte de Masha Amini e estão a ameaçar os já debilitados cofres do Governo teocrático iraniano, ou seja, a indústria de petróleo e gás. Embora esteja ainda por esclarecer se se seguirão outros protestos semelhantes noutros centros nevrálgicos da economia iraniana, há manifestações em praticamente em todo o país, na sequência da morte de Amini, sob custódia da polícia da moralidade, três dias depois de ter sido detida por uso indevido do véu islâmico.
Hoje de manhã, ecoaram vários sons de aparentes tiros e explosões numa cidade no oeste do Irão, enquanto as forças de segurança terão abatido a tiro um homem numa localidade próxima, reportou a agência noticiosa Associated Press (AP), citando ativistas de direitos humanos. O Governo do Irão insiste que Amini não foi maltratada, mas a família da vítima diz que o corpo apresentava hematomas e outros sinais de espancamento.
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Vídeos subsequentes mostraram as forças de segurança a espancar e a empurrar manifestantes, incluindo mulheres que chegam a retirar o véu obrigatório, ou ‘hijab’. De Teerão e de outras localidades, estão a surgir vídeos nas redes sociais, apesar de as autoridades terem interrompido a Internet. Ao entrar na quarta semana de protestos, alguns vídeos mostram algumas mulheres a marchar pelas ruas sem lenços na cabeça, enquanto outras confrontam as autoridades e acendem fogueiras na rua.
As manifestações representam um dos maiores desafios para a teocracia do Irão desde os protestos do Movimento Verde em 2009. Os protestos levaram hoje o presidente do Supremo Tribunal iraniano a assumir que as autoridades judiciais do Irão estão “prontas” para ouvir e dialogar com os manifestantes. “Os cidadãos ou grupos políticos devem saber que temos ouvido para protestos e críticas e que estamos prontos para o diálogo”, Gholam-Hossein Mohseni-Eje’i, que reconheceu que o sistema político iraniano pode sofrer de “fraquezas e fracassos”.
“Estamos prontos para ouvir sugestões e não temos escrúpulos em corrigir quaisquer erros”, disse Mohseni-Eje’i em declarações aos jornais locais Donya e Eqtesad, e divulgadas pela agência noticiosa alemã DPA.
No entanto, o presidente do Supremo Tribunal iraniano salientou a necessidade de que os protestos sejam realizados de forma pacífica antes de todos se sentarem para dialogar. Embora os protestos tenham começado há quase um mês, nas últimas semanas têm-se intensificado em todo o país e, internacionalmente, vários países ocidentais já exigiram a aplicação de novas sanções ao governo de Teerão em resposta à repressão realizada contra os manifestantes.
A Organização não-governamental Iran Human Rights (IHR) estimou hoje que os protestos já provocaram, pelo menos, 185 mortes, 19 delas crianças. Já hoje, o Governo britânico impôs um pacote de sanções a três altos funcionários da chamada Polícia da Moralidade, bem como à Guarda Revolucionária Iraniana pela repressão utilizada contra os manifestantes.
Por sua vez, o Irão acusou os Estados Unidos, Israel, Arábia Saudita e parceiros ocidentais de estarem a orquestrar “uma espécie de conspiração estrangeira” para “enganar” a juventude do país para causar “motins violentos” depois de terem “falhado as tentativas de guerra económica”, por via das sanções.
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