Numa avenida de Maputo envolta em chamas o povo apenas dá livre acesso aos militares
Barricadas e pneus em chamas voltaram esta manhã às ruas de Maputo, com manifestantes a contestarem o processo envolvendo as eleições gerais de 09 de outubro e o povo a abrir caminho apenas para a passagem dos militares.
Na avenida Acordos de Lusaka, centro da capital moçambicana, centenas saíram à rua, queimando dezenas de pneus e impedindo toda a circulação, alegando que minutos antes a polícia levou alguns para a esquadrada logo ali ao lado, no terceiro dia consecutivo de protestos convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.
Numa artéria central da cidade, quotidianamente de grande movimento, o espesso fumo negro tomou conta da zona, enquanto os militares chegavam para tentar fazer alguma limpeza.
“Militares sim. Militares sim (…) Eles têm uma maneira de conversar com a população, entendem, falam”, explica, no meio do intenso fumo de pneus em chamas, Brian Obisse, 30 anos, sem esconder a revolta: “Você leva uma pessoa para a cadeia, que só está a fazer uma manifestação simples, carregar uma pessoa para a esquadra para fazer o quê?”.
Luciano Michele, 30 anos, juntou-se aos restantes manifestantes no centro da avenida após a intervenção da polícia.
“Foi isso que aconteceu, para chegarmos a este extremo”, relata, entre pneus em chamas e militares que passavam para tentar limpar, sem muito sucesso.
“Militares passam daqui à vontade”, avisa, acrescentando: “Eles falam bem e apoiam muito bem o povo”.
Enquanto outros jovens carregam mais pneus para juntarem às barricadas em chamas, João Tembe, 43 anos, fala com os militares que ali chegam.
“São os únicos em quem nós confiamos porque eles demonstram firmeza e demonstram que estão connosco. Andam encapuzados por causa das ordens superiores”, explica, pouco depois.
Revoltado, garante que Venâncio Mondlane, que tem apelado aos protestos pós-eleitorais em Moçambique, foi “apenas um incentivo” para “despertar muitos jovens”.
“A minha manifestação não é vandalismo, estou preocupado com o futuro dos jovens, o que vai ser deles amanhã”, atira.
Pelo menos 88 pessoas morreram e 274 foram baleadas durante as manifestações e paralisações de contestação aos resultados eleitorais desde 21 de outubro, indicou hoje a organização não-governamental (ONG) Plataforma Eleitoral Decide.
De acordo com o relatório divulgado por aquela plataforma de monitorização eleitoral moçambicana, envolvendo outras ONG como o Centro de Integridade Pública (CIP), o Centro para a Democracia e Direitos Humanos (CDD) e a Amnistia Internacional, com dados até 04 de dezembro, há ainda registo 3.450 detidos neste período.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou para uma nova fase de contestação eleitoral de uma semana, de 04 a 11 de dezembro, em “todos os bairros” de Moçambique, com paralisação da circulação automóvel das 08:00 às 16:00 (menos duas horas em Lisboa).
“Todos os bairros em atividade forte”, disse Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro, numa intervenção através da conta oficial na rede social Facebook.
Tal como aconteceu na fase anterior de contestação, de 27 a 29 de novembro, o candidato presidencial pediu que as viaturas parem de circular das 08:00 às 15:30 (menos duas horas em Lisboa), seguindo-se então 30 minutos para se entoar os hinos de Moçambique e de África nas ruas, o que se verificou nos últimos três dias em várias artérias centrais, nomeadamente, de Maputo.
O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição para Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane e que têm degenerado em confrontos violentos com a polícia.
Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
PVJ // VM
By Impala News / Lusa
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