Mais de 100 feridos no assalto por imigrantes a fronteira de Melilla
Mais de 100 pessoas ficaram feridas hoje no enclave espanhol de Melilla, no norte de África, quando milhares de imigrantes forçaram e tentaram saltar a vedação fronteiriça com Marrocos, segundo dados das autoridades de Espanha.
Entre os feridos há 49 elementos das forças de segurança espanhola, todos com ferimentos ligeiros. Outras 57 pessoas do grupo que forçou e saltou a vedação da fronteira ficaram com ferimentos de diversa gravidade e três tiveram de ser levadas para o hospital. Cerca de 2.000 pessoas tentaram hoje entrar ilegalmente em Melilla, desde Marrocos, e 133 conseguiram passar para território espanhol, segundo as autoridades da cidade.
No lado marroquino foram detidas cerca de mil pessoas, segundo as autoridades de Marrocos citadas pela agência de notícias EFE, que disseram que houve também dezenas de feridos em território marroquino, entre polícias e civis. Nos últimos dias já tinha havido confrontos em Marrocos entre grupos de imigrantes que se estavam a concentrar nas proximidades da fronteira com Melilla, disseram as mesmas fontes.
As autoridades da cidade revelaram que cerca de duas mil pessoas se concentraram em território marroquino perto de Melilla e começaram a aproximar-se da fronteira às 06:40, tendo sido acionado um dispositivo policial pelos dois países. Um grupo de 500 pessoas conseguiu ainda assim chegar à vedação que separa os dois territórios, depois de terem destruído o acesso a um posto de controlo que estava fechado.
Era um grupo “perfeitamente organizado e violento”, segundo a Delegação do Governo espanhol em Melilla. Os enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla são as únicas fronteiras terrestres da União Europeia (UE) com o continente africano (com Marrocos, nos dois casos). Esta é a primeira tentativa de violação massiva das fronteiras dos enclaves desde a normalização das relações diplomáticas entre Madrid e Rabat, em março passado, depois de um ano de tensões.
A crise entre Marrocos e Espanha estava relacionada com a estada em Espanha em abril de 2021 do líder do movimento independentista sarauí Frente Polisário, para ser tratado na sequência de uma infeção causada pela covid-19. A Frente Polisário, apoiada pela Argélia, contesta a ocupação por Marrocos do Saara Ocidental.
A tensão diplomática entre Madrid e Rabat desencadeou a entrada, em meados de maio, de mais de 10.000 migrantes em Ceuta, graças a uma flexibilização dos controlos do lado marroquino. Em março passado, as relações bilaterais foram normalizadas, depois de o Governo espanhol assumir publicamente que a proposta apresentada por Rabat em 2007 para que o Saara Ocidental seja uma região autónoma controlada por Marrocos é “a base mais séria, credível e realista para a resolução deste litígio”.
O Saara Ocidental é uma antiga colónia espanhola ocupada por Marrocos há 47 anos, no contexto de um processo de descolonização. Espanha defendeu durante muito tempo que o controlo de Marrocos sobre o Saara Ocidental era uma ocupação e que a realização de um referendo patrocinado pela ONU deveria ser a forma de decidir o futuro do território.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, já elogiou hoje a colaboração de Marrocos no assalto “violento e organizado” à vedação fronteiriça de Melilla. Já a oposição de direita do PP pediu a demissão do ministro da Administração Interna e questionou para que serviu alterar a posição de Espanha em relação ao Saara Ocidental. A extrema-direita do Vox, por seu lado, pediu que Espanha exija na cimeira da NATO da próxima semana, em Madrid, a proteção da fronteira sul da Aliança Atlântica, nomeadamente, a “proteção imediata, eficaz e duradoura de Ceuta e Melilla”.
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