Kremlin assegura que Rússia não entrou em incumprimento
O Kremlin disse hoje que não há “qualquer razão” para falar num incumprimento da Rússia, anunciado por alguns meios de comunicação, depois de detentores de obrigações russas não terem recebido os juros até à data limite.
“Não há razão para chamar a isto um incumprimento”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, aos repórteres. “Este pagamento foi feito em maio, em moeda estrangeira”, disse. “Estas alegações sobre um incumprimento russo são completamente ilegítimas”, insistiu. A Rússia anunciou em 20 de maio que tinha pago juros sobre duas dívidas no valor de 71,25 milhões de dólares e de 26,5 milhões de euros, sete dias antes da data prevista para evitar que estes pagamentos fossem bloqueados por sanções em vigor a partir de 25 de maio.
Se os credores não recebessem o valor dos juros até 26 de junho, a Rússia estaria em situação de incumprimento. “Isto não é um incumprimento do nosso país, mas sim o colapso artificial e deliberado do sistema internacional de compensações”, disse à agência russa Ria Novosti Konstantin Kosachev, vice-presidente da câmara alta do Parlamento. Peskov advertiu contra qualquer tentativa do Ocidente de se apropriar, sob pretexto de um incumprimento, das reservas financeiras russas no estrangeiro, congeladas como parte das sanções ocidentais contra Moscovo devido ao conflito na Ucrânia.
As reservas estão “ilegitimamente congelados e qualquer tentativa de as utilizar será também ilegítima, será praticamente um roubo”, sublinhou. Na semana passada, o ministro das Finanças russo, Anton Siluanov, afirmou que a Rússia tinha efetuado pagamentos de juros em rublos da dívida emitida em dólares, negando que o país estivesse em risco de incumprimento. Em seguida, acusou as “contrapartes estrangeiras” de se recusarem a fazer pagamentos em moeda estrangeira, criando assim as condições para um incumprimento artificial, chamando à situação uma “farsa”.
No final de maio, a Rússia anunciou que iria pagar a sua dívida externa em rublos, uma vez que já não o podia fazer em dólares devido às sanções, apesar da sua grande liquidez financeira. O reembolso numa moeda diferente daquela em que uma dívida é denominada expõe o devedor ao incumprimento da sua dívida. Uma vez que as três principais agências internacionais de notação financeira já não classificam a Rússia, cabe a uma organização dos principais bancos internacionais (Credit Derivatives Determinations Committees) avaliar se a Rússia está ou não a falhar os pagamentos aos seus credores.
Segundo a agência Bloomberg, a Rússia entrou em incumprimento pela primeira vez em 100 anos, uma vez que o período de carência para o pagamento de quase 100 milhões de dólares em juros sobre a sua dívida soberana expirou. O período de tolerância de 30 dias para os credores da Rússia receberem o pagamento expirou no domingo.
Segundo a Bloomberg, esta situação é considerada um evento de suspensão de pagamentos e é o “culminar das sanções ocidentais cada vez mais severas (contra a Rússia pela sua “operação militar especial” na Ucrânia) que têm bloqueado os canais de pagamento aos credores estrangeiros”. “É um sinal sombrio da rápida conversão do país (Rússia) num pária económico, financeiro e político”, disse a agência.
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