Diáspora exige em Bruxelas que UE olhe para Moçambique “como olhou para a Venezuela”

Um grupo de cidadãos moçambicanos manifestou-se hoje em frente à Comissão Europeia e ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, exigindo à União Europeia (UE) que olhe para Moçambique “como olhou para a Venezuela ou a Geórgia”.

Diáspora exige em Bruxelas que UE olhe para Moçambique

Eram poucos, não chegando a duas dezenas, mas as suas vozes ouviam-se ao longe na rotunda de Schuman, em frente ao edifício da Comissão Europeia. Foi o ponto de encontro de um grupo de cidadãos moçambicanos, não só da Bélgica, mas também dos Países Baixos e de Itália, que, a mais de 8.000 quilómetros de distância de Maputo, querem fazer parte da contestação aos resultados das eleições de 09 de outubro.

Dois meses depois das eleições, concentraram-se para pedir à UE que “olhe para Moçambique como olhou para a Venezuela ou para a Geórgia”, disse à Lusa Aurora Foguete, de 34 anos.

O grupo não pertence a um movimento ou coletivo, são só “cidadãos que estão preocupados” e que combinaram pelas redes sociais organizar uma manifestação, explicou a autointitulada porta-voz.

Munidos com casacos grossos, gorros e luvas – as temperaturas em Bruxelas já rondam os 3ºC -, os manifestantes empunhavam bandeiras de Moçambique ou levavam-nas às costas como uma capa, e seguravam cartazes onde era possível ler “basta de corrupção, basta de FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique, no poder há 50 anos], Venâncio no poder”; “o povo não é vândalo. Vândalo é quem humilha e mata!; “ignorar a fraude, é matar a democracia!” e “fraude é roubo! Temos direito à escolha e justiça”.

Há três anos a viver em Bruxelas, a porta-voz deste grupo de cidadãos alertou para as “violações dos direitos humanos, repressão das manifestações, corte no acesso às comunicações” por parte de um “Governo usurpador” que está a “roubar os recursos” do país.

Questionada sobre o que mudou em 2024 e que conduziu às manifestações contra a maneira como o processo eleitoral foi conduzido, reprimidas com violência por parte da polícia e do exército, provocando mais de 100 mortos, Aurora Foguete disse que o que mudou neste sufrágio “foi a consciencialização das pessoas”.

O povo está na rua, mas falta-lhe apoio internacional: “Nós, moçambicanos, já estamos cansados de notas de repúdio, a dizer o que se deve fazer. Por isso, decidimos vir para a rua dizer à comunidade internacional que está a compactuar com o regime.”

“As eleições não foram justas. Nós, moçambicanos na diáspora e em Moçambique, pedimos [aos países da UE] que não reconheçam o Governo. Se o povo não o reconhece, fazê-lo não faz qualquer sentido. Sabemos que há interesses económicos com empresas, mas essas mesmas empresas serão necessárias para reconstruir o nosso país mais tarde”, exortou a manifestante.

Um regresso a Maputo estava previsto para o mês de dezembro, para celebrar o Natal e a gravidez com a família, mas as manifestações e a violência na rua adiaram a viagem e até levaram Aurora a equacionar como retirar a família do país, se a situação “se encaminhar para uma guerra civil”.

“Olham para Ucrânia porque eles têm recursos, nós também temos! A dor do negro também importa, se fosse um país próximo, como aconteceu na Geórgia, com as eleições… É o mesmo caso, a diferença é no continente”, lamentou.

Por isso, reforçaram em uníssono o apelo para que os países da União Europeia “não reconheçam o Governo” e exigem “que a UE, no futuro, quando queira fazer um projeto, tenha em consideração a mudança que o povo quer”.

E Portugal, admitiu a manifestante, não está isento de culpa, como país colonizador e com ligação histórica a Moçambique, que tem há muitos anos uma forte presença no tecido empresarial moçambicano, como a Galp.

“Portugal é o nosso maior aliado na União Europeia, há partidos políticos que nos apoiam e que até acham que devíamos ser comparados à Venezuela, mas outros felicitam o Governo. Já chega!”, disse, visivelmente consternada.

Aurora Foguete também criticou o que disse ser a decisão da União Europeia de ‘despejar’ continuamente dinheiro no país sem se preocupar realmente com a situação político-social. Essa falta de preocupação, assim apelidou, também alimenta discursos contra a imigração.

“Eu estou na Europa, mas não sinto isso como uma bênção. Eu gostava de estar em Moçambique, mas assim não é possível”, completou.

Os manifestantes seguiram, sob a chuva que caiu ininterruptamente, em direção ao Parlamento Europeu. A intenção é de levar as palavras de ordem que vieram de Maputo a todas as instituições europeias e uma só mensagem: “Isto tem de mudar”.

AFE // MLL

By Impala News / Lusa

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