Portugal falha meta de diplomados para 2020

A meta de diplomados entre os 30 e os 34 anos para 2020 ficou-se pelos 36,2%, não atingindo os 40% previstos, devido a insuficiências nas medidas adotadas, revela uma auditoria do Tribunal de Contas, hoje divulgada.

Portugal falha meta de diplomados para 2020

“A meta foi definida em 2010, no âmbito da Estratégia Europa 2020, para a década 2010-2020, e é da maior relevância para Portugal, num contexto de défice estrutural na qualificação da sua população e da previsão do declínio da população ativa e do crescente envelhecimento, obstáculos ao desenvolvimento económico e social e à criação de riqueza”, observa o TdC numa nota que acompanha a divulgação do relatório.

A instituição de fiscalização das contas públicas sublinha que em 2010, apenas 12% da população tinha formação de nível superior, sendo 24% na faixa dos 30-34 anos.

Os auditores registam que foi adotada legislação favorável ao aumento do número de diplomados, como a redução de cinco para três anos na licenciatura e a criação dos cursos técnicos superiores profissionais, e que o Programa Nacional de Reformas apontou várias medidas neste sentido, embora “não especialmente desenhadas” para alcançar a meta.

“Contudo, não foi possível examinar a eficácia das medidas para aumentar o número de diplomados na faixa etária de 30-34 anos, uma vez que não foi indicado o seu concreto contributo para a meta, nem foi delineado um plano operacional com a explicitação das medidas previstas, as etapas para a sua execução e avaliação e os resultados esperados”, lê-se no documento.

O tribunal realça que houve “progressos significativos” no aumento da qualificação da população na última década (quase 80.000 diplomados em todas as faixas etárias, em 2017/18) e que, sendo transversais, as medidas abarcaram, “ainda que limitadamente”, a faixa dos 30-34 anos.

Neste contexto, destaca diversas iniciativas para “estimular o acesso e reduzir o abandono” no ensino superior, nomeadamente ao nível do apoio social, relativas a bolsas de estudo, como a alteração da metodologia de cálculo, a subida do limiar de elegibilidade e a reestruturação e desburocratização do sistema.

Ainda assim, o tribunal alerta que houve anos em que aquele limiar foi “inferior à retribuição mínima garantida” e que, embora o número de bolseiros tenha crescido na década, o valor da bolsa média anual tem diminuído (em 2018/19: 1.636 euros, abaixo dos 1.687 euros de 2010/11).

“Cerca de metade das bolsas situou-se no valor mínimo que cobre a despesa com propinas”, observam os auditores.

Na auditoria, refere-se também que na última década se destaca o aumento de 40 euros do valor médio anual do complemento de alojamento (2018/19: 756 euros) e do número de bolseiros deslocados apoiados, embora o preço mensal do alojamento nos principais centros universitários possa ultrapassar metade do apoio anual.

Nos cursos técnicos superiores profissionais, o número de estudantes tem vindo a aumentar, mas a maioria dos seus 11.000 diplomados desde 2014 tem menos de 30 anos, limitando, portanto, o contributo para a meta determinada.

De acordo com a auditoria, as medidas adotadas pelas Instituições de Ensino Superior (IES) para combate ao abandono escolar “não foram direcionadas aos estudantes relevantes para a meta”.

Os Contratos de Legislatura para 2016-2019 também não especificaram “o concreto contributo das IES”, pelo que não foi possível examinar a eficácia destas medidas no contexto em análise.

O tribunal constata, ainda, que a programação orçamental “não foi suficiente, explícita e completa” e “não indica as medidas definidas para atingir a meta, nem a dotação orçamental afeta, prejudicando o princípio da transparência orçamental e não permitindo a apreciação da boa gestão dos dinheiros públicos nacionais e europeus, por não se conhecer o financiamento e a despesa conexos à meta”.

Os responsáveis pelo relatório admitem que continuam a ser adotadas medidas para aumentar o número de diplomados em Portugal, nomeadamente na população dos 30-34 anos, e que o novo Contrato de Legislatura para 2020-2023 “já apresenta as medidas especialmente relevantes para faixas etárias distintas e com indicação das respetivas metas”, ainda que sem a explicitação do contributo de cada IES.

Perante as situações identificadas, o tribunal recomenda ao Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, que atue no sentido de as medidas de política pública integrarem planos operacionais, “com o detalhe apropriado para a sua implementação”, de o Programa Orçamental ter “transparência e detalhe” e de ficar explícito o contributo das IES para as metas do Contrato de Legislatura 2020-2023.

No âmbito do objetivo da Estratégia Europa 2020, para a década 2010-2020, de aumentar a qualificação da população, Portugal assumiu a meta de, até 2020, aumentar para, pelo menos, 40% a percentagem de população entre os 30-34 anos com diploma de ensino superior.

 

 

Impala Instagram


RELACIONADOS