Estamos a falhar como sociedade à Geração Z
A Geração Z está a lançar um alerta claro: não está a desistir do planeta, está a desistir desta geração de governantes e empresas que pouco fazem; está ainda a exigir medidas concretas e efetivas para o salvar.

O mais recente estudo From Anxiety to Agency, da GlobeScan e BBMG, revela um paradoxo inquietante: os jovens continuam profundamente preocupados com o planeta, mas estão a afastar-se de comportamentos sustentáveis. A razão? Um sentimento crescente de impotência. Entre 2020 e 2024, a percentagem de jovens que afirma tentar reduzir a sua pegada ambiental desceu de 76% para 68%. A culpa ambiental também está a diminuir (de 66% para 56%) e os mais jovens acreditam que as ações individuais não fazem diferença (de 33% para 42%). Estes dados não apontam para desinteresse – apontam para esgotamento. A Geração Z não está a abdicar da luta climática por falta de consciência, mas porque sente que está a lutar sozinha.
Durante anos, governos e empresas projetaram sobre o indivíduo a responsabilidade pela crise ambiental: separe os resíduos, consuma menos, use transportes públicos. Todas estas ações são, efetivamente, necessárias – mas precisam de ser acompanhadas por compromissos verdadeiramente estruturais, por coragem política e decisões eficazes para restaurar a Natureza.
Mantêm-se os subsídios aos combustíveis fósseis, as práticas empresariais que agridem a natureza, e as políticas públicas que revelam uma ambição tímida. A narrativa dominante colocou os consumidores no centro da mudança – quem tem menos poder para fazer a diferença – e ainda recusou dar-lhe as ferramentas, os incentivos e o apoio necessários para que possam ter esperança num futuro melhor.
O resultado é uma juventude desiludida, que não vê resultados práticos dos seus esforços individuais. As crises climática e da biodiversidade tornaram-se tão omnipresentes que bloqueiam, em vez de mobilizarem. Esta “eco-ansiedade” transforma-se em inércia – não por desinteresse, mas por falta de exemplos vindos de cima (do governo, das empresas) e de alternativas reais, inspiradoras e acessíveis.
“A Geração Z está a lançar um alerta claro: não está a desistir do planeta, está a desistir desta geração de governantes”
As empresas falham quando promovem soluções verdes superficiais enquanto mantêm modelos de negócio insustentáveis. Os governos falham quando privilegiam o crescimento económico de curto prazo em detrimento de políticas ambientais corajosas ou quando não produzem e adotam a regulamentação necessária para a mudança. A sociedade como um todo falha quando ignora o apelo de uma geração que exige um futuro habitável – adiando as promessas feitas nas COP, os compromissos de neutralidade carbónica, e a disponibilização de fundos para restaurar a natureza, que tarda.
Este momento exige muito mais. Requer uma transformação estrutural na forma como produzimos, consumimos e governamos. A sustentabilidade não pode continuar a ser um fardo moral individual e uma palavra vazia que todos usam – tem de ser uma escolha real, fácil, viável e integrada no dia-a-dia. E isso só se alcança com coragem política e liderança empresarial.
A Geração Z está a lançar um alerta claro: não está a desistir do planeta, está a desistir desta geração de governantes e empresas que pouco fazem; está ainda a exigir medidas concretas e efetivas para o salvar. A questão é se estamos dispostos – e preparados – para finalmente a escutar. Porque falhar com esta geração é falhar com todas as que ainda hão-de vir e com a nossa própria. Precisamos construir um mundo melhor que traga esperança, e esperança é sinónimo de Natureza restaurada.
Ângela Morgado,
Diretora Executiva da WWF Portugal
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